Sunday, June 11, 2017

Orientações para chegar ao Santuário

Já notaram na quantidade de amantes de bicho animal que viaja até os confins do mundo para ser fotografado ao lado de um Mestre Leão? Sem saber que a deslumbrante beleza dele adormeceu com sedativos depois de ter sido capturado de seu ambiente natural e viver hoje em cativeiro? 

E quantos outros de nós, que a-m-a-m-o-s absolutamente estes professores do amor e do perdão, separam filhos e mães de Mestras Elefantas, sem pensar um único segundo sequer que famílias de laços centenários foram arrebentadas para que bicho gente simplesmente tivesse recordações - paradoxalmente amorosas - de férias imersas na natureza que inconscientemente devasta? Concordamos que os caçadores são cruéis. Mas a crueldade se estende furtivamente entre os que entre nós pensam jamais caçar - sem notarmos nos predadores que nos tornamos. 

As formas de exploração estão por toda parte - até naquele bicho animal pacato naquele hotel luxuoso que o tem ali como atrativo para bicho gente criança. Quem imaginaria que debaixo daquela sela haveria machucado digno de desmaio! Ou que naquele sol escaldante, água era como miração no deserto! São explorados também em cavalgadas e depois da ida de seus cavaleiros de fim de semana, Mestres Cavalos são vistos andando a esmo, comendo lixo das cestas suspensas que aguardam os coletores, sendo açoitados tantas vezes por moradores que justificam o comportamento com o desprezo pela arruaça que causam - sem a sensibilidade de perceberem que eles mesmos, Mestres Cavalos, não queriam estar ali!

Consciência é quase milagre neste mundo, haja visto o sono profundo que nos acomete. Há que despertá-la!

Em contrapartida, na nossa trajetória no Santuário, nós realizamos que o contato com estes mestres era necessário para que falássemos sem vanidades. Com contundência. Sobre a libertação animal. Para que eles próprios falassem. Mas como fazer com que este contato não seja oportunista? Como estruturar de maneira a incitar reflexões sinceras sobre nosso estilo de vida? Qual é a fórmula para que a vinda ao Santuário seja percebida como um tempo de investigação pessoal, cura íntima - de tudo que adoece dentro e em consequência, ao nosso redor, enraizado em nós mesmos! Como??

À medida que os resgates aconteciam víamos, com desconforto, que os protagonistas da dor e do sofrimento deles eram e são invariavelmente de nossa espécie. Tornou-se então urgente uma campanha de conscientização - como urge-se castrar Mestres Gatinhos para amparar o hercúleo trabalho das Ongs que realizam resgates e adoções... O intento da escrita é que percebamos que a abrangência das questões vai além de salvarmos vidas pontuais - quando infinitas passam frio, fome e injustiças de toda ordem! Mas atenção, pois a colocação não tira o mérito e dever de salvarmos todas que podemos. E lutarmos por elas, cada uma delas, sem qualquer bom senso! Com loucura. Aquela insanidade que acredita que somos capazes de mudar o mundo.

Nós então começamos a transformar nossas vivências e retiros de autoconhecimento com ferramentas como ioga, jejum e meditação - que datam mais de década anterior ao Santuário - para prover este contato íntimo entre nossa espécie e outras. Em um ambiente harmonizado onde eles se manifestam em sua real plenitude. Cada encontro tem sua agenda na espontaneidade de tudo que vive e da química que ocorre quando nos encontramos e expressamos livre e respeitosamente nossas ideias e ideais, buscando não validação para seguirmos sendo os mesmos - mas aprimoramento. Para sermos melhores! Haja humildade para nós.

Tratamos nestas ocasiões da importância do auto-estudo para investigarmos quem somos - minuciosamente -, como as razões que comemos o que comemos - tantas vezes motivados por uma mídia que visa não nossa saúde, mas lucros às custas de crueldade e inconsciência. Ou as razões que nos divertimos como nos divertimos: causando vítimas. Ou motivos das nossas tantas doenças. Estaríamos sendo envenenados sem ao menos percebermos? E sem intenção!? Simplesmente por não fazermos a ligação da qualidade de vida do assassinado ou do provedor do produto - como mestra vaca e mestra galinha -, o impacto em seu corpo físico em termos de tumores e estresses. E a consequência de ingerir tudo isto em uma dieta sem restrições. Estudamos a dificuldade de abandonar nossas motivações egóicas para nos colocarmos no lugar do outro - quem quer que seja -, e agirmos de forma compassiva. Mesmo quando nosso ato é desfavorável para nós - como a simples questão de parar o consumo de queijo, abrindo mão de um prazer, para que outro ser seja feliz.

Se fala ao teu coração estar com a gente, nós aqui receberemos você. Receberemos porque você atende um chamado íntimo de estar em um lugar que, empiricamente escrito, um que não é nosso. Mas que somos meros guardiões. O que determina tua vinda é tua consciência. Se estar aqui, ainda que não tenha conseguido mudar tua dieta, se estar aqui te remete à força necessária para operar transformações em tua vida, conscientizar diferentes formas de viver - ou simplesmente sustentá-las... Ah, por amor, venha! Sim, por amor. Aqui acreditamos que o caminho é pelo coração. Justificar nosso ódio pelos ofensores para falar de amor aos mestres animais é incoerente na nossa perspectiva. Deflagra em holofotes a cura que intentamos dar quando na verdade a solicitamos para nós - que feridos nos identificamos com outras vítimas em vez de enxergá-las em seu sofrimento. Para podermos curá-las. Conclui-se, portanto, mais uma vez, que a cura começa em cada um de nós.

E ainda que obviamente não possamos ditar a verdade da vida, por nós mesmos não a conhecê-la, podemos com humildade compartilhar a nossa. Esta é uma delas - que a transformação transita no cardíaco, não na mente. 

Se estar aqui ressoa ao teu espírito, escreva para a gente inbox - pois só recebemos com horário agendado e um número limitado de bicho gente. Cada encontro arrecada fundos para eles próprios - haja visto que além de alimentação, demandam infra e cuidados veterinários. Não há valor fixado, organizamos estes eventos embasados no conceito de economia solidária. Nossas profissões como instrutora de ioga, produtor rural orgânico e facilitadores de vivências endereçam somente nossas contas pessoais. O Santuário se sustenta através de doações. 

Também compartilhamos que estar aqui demanda prontidão de espírito porque a qualquer instante tudo que planejamos pode mudar em função do clima, de um acidentado, um novo resgate! A vida não espera. E como temos nos acostumado a lidar com coisas e não com seres, este estado consciencial em primeiro momento provoca o desconforto de não estarmos no controle. De não termos tempo para nos preparar, para descansar. Para fazer do nosso jeito e no nosso tempo... Agir com inteireza, atendendo solicitações imediatas, para o bem de todos é premissa para estarmos aqui. Lembrando que o Santuário é um ambiente colaborativo onde todos ajudam nas menores funções quando solicitados. Como manter o banheiro limpo! É um ambiente amoroso - onde se um mestre touro resolver impedir a passagem do nosso carro, nós com gentileza o tiraremos de lá. Aqui a vida exige paciência e delicadeza ao mesmo tempo que demanda força. O entorno tem regras claras para que a permanência de todos aqui esteja protegida. E seja respeitosa. Quem não honrar estas orientações, respeitamos. Mas como nossa responsabilidade é grande, nós sem qualquer embaraço ou culpa - por amor inclusive - nós convidamos a se retirarem todos que não agirem condizentes a estas observâncias de convivência pacífica.

Se teus olhos brilharam lendo tudo isto, faremos festa para tua chegada! E agradecemos já de agora por ser agente de transformação em um mundo carente de mudanças. Agradecemos tua coragem para se olhar e se ver, sem culpar os demais nos crimes que somos coadjuvantes quando nos omitimos ou meramente consumimos. 

A gente acredita que só existirá libertação animal quando o próprio homem se libertar. Também somos bicho! E, ao contrário deles que são livres no espírito mesmo aprisionados na carne, nós nos deixamos domesticar. Que tenhamos a ousadia de sermos bárbaros. De não nos enquadrarmos nos moldes de uma sociedade doente - que adoece inconscientes. Ousemos a rebeldia que opera mudanças, não aquela que agride com cobranças...

Lembro da primeira vez que estive com um Mestre Cavalo. Ele se aproximou de mim com seu nariz pertinho do meu ouvido e exalou o ar de seus pulmões. Eu me arrepiei. E chorei lágrimas de purificação. Um bicho gente assistia e perguntou o que tinha acontecido. Ainda emocionada suspirei, sem saber que anos dali seria discípula daqueles seres que naquele instante me despertavam... No Mistério dos encontros que determinam destinos, aquele que sequer soube o nome me disse: "Você também é livre e selvagem". E aquilo, sem que eu sonhasse, guiaria meus passos até outro que fosse tão selvagem quanto todos somos, para que pudéssemos juntos, o Vitor e eu, não nos vangloriar pelo pouco que pode ser feito aqui, mas humildemente dar t-o-d-o crédito do que fazemos - sem pensar - aos que nos acordam o coração. Tornando possível o amor. E o serviço. Se algo, só nos cabe agradecer. São eles, Mestres Animais, que selam nosso destino. Nós somente damos voz a eles para que sejam conhecidos além das cercas desta propriedade. E cochichem aos ouvidos de quem possa ouvir que também são livres e selvagens!

Agradecemos todos que Mestres Animais aproximaram do nosso espírito, provando e evidenciando para nós que bicho gente ainda conseguirá salvar sua própria humanidade. Gratidão.

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