Thursday, August 24, 2017

Ao Mestre Pequeno Príncipe com Amor


"Quando olhares o céu à noite eu estarei habitante uma estrela, e de lá estarei rindo; então será, para ti, como se todas as estrelas rissem! Dessa forma, tu, e somente tu, terás estrelas que sabem rir. E quando estiveres consolado (a gente sempre se consola), tu ficarás contente por teres me conhecido. Tu serás sempre meu amigo. Terás vontade de rir comigo. E às vezes abrirás tua janela apenas pelo simples prazer... E teus amigos ficarão espantados de ver-te rir olhando o céu. Tu explicarás então: “Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!” E eles te julgarão louco. Será como se eu lhe houvesse dado, em vez de estrelas, montes de pequenos guizos que sabem rir."  O Pequeno Príncipe

Hoje é o sétimo dia da passagem de um iluminado. E detalhes da vida dele urgem em mim serem contados, porque se cada um que escuta não diz o que ouviu, como os que ainda não aprenderam a escutar saberão destas verdades? É importante servimos este propósito, cada um de nós. O amor não pode permanecer só nos nossos quintais, deve estourar nossas cercas. Ir além dos nossos muros. Através de nossos corações.

Além dos acontecimentos que orbitam em torno de um resgate, existe também algo subliminar, de importância elevada - tanto quanto a vida dos que nos são caros. O sublime é o que tentamos registrar aqui, nestas breves linhas, usando limitadas palavras que diminuem o que sentimos, mas ainda são capazes de incitar poemas. Cada resgate de um deles é também um nosso, pois somos provocados a penetrar e transitar em nós mesmos, nos lugares sombrios e iluminados que o outro como espelho nos conduz à visão.

Mestre Pequeno Príncipe chegou até nós como um bicho bode com deficiência ortopédica que pensamos, no pior dos casos, poderia viver conosco em cadeiras de rodas - modelo cross e com banco ejetável, paraquedas! Tudo pensando não só nele, mas nas brincadeiras e alegrias que teríamos todos juntos - Mestre Bode Hipócrates incluído. E ríamos felizes, até ingênuos, sem saber que o destino nos guardava outros planos e acontecimentos.

Como é a história de todo menino filho de uma escrava de leite, Mestre Bodinho Pequeno Príncipe seria assassinado - como foram seus irmãos. Mas a deficiência o salvou. E quem o salvou? Alguém que despertou. Ou que ele despertou precisamente colocado. Mestres do amanhecer de novos dias.

Este bicho gente, que até certo ponto do caminho não detinha opinião sobre os "negócios" da família - ainda que tímidos e até artesanais, como as pequenas produções são. O mais doído é que nestas menores escalas da indústria do leite instalada a contragosto na mama das exploradas, é que existe amor, fragmentos dele. Amor que dói. Porque aprisiona o outro no compromisso de fazer quem é servido feliz, mesmo que este não veja se quem o serve é feliz.

Então os amados comiam nas mãos da família que os criava. Demonstravam amor. Confiavam. E um dia qualquer, aquelas mesmas mãos separavam famílias, mães e filhos, roubavam leite. Impactavam o emocional e físico da matriarca a tal ponto que futuras gravidezes seriam comprometidas - já que em todo bicho mulher, de qualquer espécie, a mãe cede cálcio de seus próprios ossos se preciso for. E eventualmente, se não tem nem na alimentação nem no corpo o que busca, gera filhos deficientes. O estresse também as acomete grandemente. A relação entre mãe e filho é pessoal e intransferível - para mamíferos? Não. Incrível, mas a ciência estudou as árvores e notou nelas próprias esta relação. O filhote se alimenta através das raízes da mãe! E nós aqui pensando que só nossa mãe é a melhor do mundo! Tudo que vive tem mãe. É concebido. Por isto é Mãe Terra, porque tudo aqui vive a partir da Mãe. Que é força cósmica criadora. Maha Shakti.

O ponto é que a situação comum na indústria do leite segue em voga - a degeneração do corpo da mãe por fatores variados. Que ninguém realmente se importa a ponto de mudar a situação - pois os facilitadores dela teriam que abrir mão dos benefícios, "produtos" que recebem, mesmo que para usufruir deles sejam cruéis justamente com quem os provê. Isto não quer dizer que não devotem dó a eles. Devotam. Muita. Só não compaixão. Na mentalidade de uma vasta maioria de encarnados bicho gente, a informação não surte efeito. Tamanha a insensibilidade que alcançamos. Pensar tornou-se mais importante que o sentir. Pensar grande, competir, gerar lucros. Com o coração ausente, vítimas presentes.

Ainda assim este coração transformado em pedra, sangra quando consegue algum alento de vida. E na dor brada socorro junto aos sofredores, como se nós mesmos fôssemos um deles. Talvez porque sejamos. Quiçá porque em algum lugar furtivo em nós se escondam dores que necessitam ser vociferadas, quem sabe ao vermos os agredidos nos lembremos de nossos agressores - e do sofrimento que percorremos por não tê-los amado incondicionalmente. Então lutamos por aqueles que sofrem, sem sabermos que tantas vezes, lutamos por nós mesmos. Porque aliviar a dor deles, alivia a nossa própria. Força nossas curas. Entrevê nós mesmos. Alguns de nós conseguem salvar só ao outro, iluminadas grandes almas que por vezes descem ao mundo. A maior parte de nós se salva através do outro. Benditas são todas as nossas relações. Inclusive a que temos com bicho animal. A que bicho animal tem conosco os salva na carne. A que temos com eles, salva a nós no espírito.

Então não saberia dizer ao certo quem salvou quem, mas o fato é que Mestre Pequeno Príncipe tinha uma rosa! E as rosas, já disse o Príncipe, eram contraditórias. Mas porque dispendeu tanto tempo com ela, tornou-a especial. Assim nos deixou Saint Exupery.

O nome do botão bicho gente que desabrochou em flor será Rosa nesta história, que é a ativista que o salvou. Ou que ele salvou como dissemos. Talvez por amor tenham se salvado mutuamente, pois nossas missões não se realizam só entre bicho gente, mas em comunhão com toda criação. Rosa era controversa como todos somos, porque sentimos o mal estar do outro, mas nem sempre agimos por ele. Nosso Pequeno Príncipe salvou Rosa da inconsciência. E em troca, Rosa levou nosso Pequeno Príncipe ao trânsito de outro planeta. Visivelmente não era daqui. Nenhum de nós é. Somos todos forasteiros. Alienígenas! Esta não é nossa casa. Aqui é breve travessia.

"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas." 
O Pequeno Príncipe

Rosa o tirou de sua mãe e o criou na mamadeira, como se ela mesma fosse a mãe do nosso Mestre Pequeno Príncipe. A mãe de Rosa não sabia do amor deles. Precisamente isto. Não a mãe do nosso iluminado, mas a mãe dela! Sim. A mãe de Rosa criava mestres caprinos. E nós não estamos aqui para julgar ninguém, só para contar histórias de amor e de despertares.

Ocorre que Rosa descobriu um amor até então estrangeiro para ela naquela magnitude. O amor por bicho animal. Este amor conduziu a cuidados inimagináveis por um ano inteiro - que incluíam não mais de três horas consecutivas de sono para levantá-lo ou deitá-lo. Cuidados que não contavam com os recursos médicos necessários, nem com condições apropriadas. Suas perninhas que no começo eram tortinhas começavam a calcificar e os danos, inimagináveis ali, seriam irreversíveis.

Alguém poderia dizer que se ela o tivesse levado antes o teria salvo. Mas quem poderia dizer que sem seu amor ele teria sobrevivido? Ninguém sobreviveu. O Mestre Bodinho que conhecemos já não era aquele de um ano. E a Rosa tampouco perseverou na sua identidade... Rosa conversou com sua mãe para deixar a exploração daqueles seres, se engajou no veganismo e alcançou um coração que muitos de nós só conhecerão através de lendas contadas por seres divinais em abduções estelares! Rosa e Mestre Pequeno Príncipe se salvaram mutuamente.

Ainda assim houve tempo em que as necessidades do corpo físico dele foram superiores ao alimento emocional que recebia, ao espiritual que dava propiciando despertares. E não havia entorno para as demandas novas que se apresentavam. Nem recursos. Ela então, com dor, pediu ajuda para que alguém o acolhesse. Aqui o amor supremo, o que mesmo que não estejamos no caminho de quem amamos, o indicamos para eles - porque sabemos que estarão melhores ali que conosco. Amor não pode aprisionar. Ou não seria amor. Amor liberta!... Mas quem acolheria um deficiente? Ambos conheceram rejeição. Nenhum deixou de ser amado.

Antes de o recebermos no Santuário, planejamos o encaminhamento dele no hospital veterinário da Universidade de Guarulhos, pensando em uma cirurgia ortopédica - ao passo que paralelamente estávamos em busca de rodinhas para seus sagrados pés, que tão brevemente tocaram o chão de nossa Mãe.

Logo na primeira noite internado o iluminado se debateu tão fortemente que se machucou. Seu comportamento do jeito que o conhecíamos por narração era ficção. Ali em sua residência temporária sequer conseguia ficar em pé. Não comia sozinho. Claramente entrou em depressão. Tristeza profunda. Assim é o amor entre os que pensam se separar. Mais tarde entenderiam que jamais poderão estar distantes porque amar costura o amado no amante a ponto de serem o mesmo tecido.

Os exames que se prolongavam à medida que seu quadro era detalhado em minúcia provocavam mais estresse e tristeza no abençoado. E os resultados eram conclusivos além da seara ortopédica. Irradiavam diagnósticos no campo neurológico. Indicavam falência gradual dos órgãos a curto prazo. Partiam nosso coração que já vinha sensível de outros que tentamos acolher no Vale da Rainha, mas que foram encaminhados ao Vale do Rei.

No processo dele recebemos o pedido de acolhimento de uma Mestra Cabra - e com empolgação comentei com o Vitor sobre a chance de receber uma vida nova já resgatada e saudável no Santuário. Ledo engano. Às vésperas da intervenção cirúrgica de Mestre Pequeno Príncipe a abençoada teve hemorragia interna! Isto não foi publicado na ocasião, pois a dor nos testava a lucidez a ponto de mantê-la somente conosco - com o intento de não propagar o sofrimento daqueles dias além do que era possível suportar ser dito, ser ouvido. Tempos de luta.

Paralelo a isto, nosso iluminado sucumbia no próprio diagnóstico. E nós mesmos sucumbíamos em nossas sombras escuras que sugerem impotência - na tristeza dos que não têm nome nem atendimento, dos que partem anônimos e desconhecidos. Sem colo, sem rezo. Dos que sequer tomam o leite que foi feito para eles. Ou que passam tempo com suas mães. A dor das mães que repetidamente vivem a separação de seus filhos. E a dos filhos que são órfãos de mães vivas!

Dentro de nós a faca afiada da cobrança que cada um faz consigo sobre os milagres de Deus que poderia ter operado, dos feitos dos super heróis dos contos! Das coisas que se sonha realizar, mas que se refreiam neste mundo por as termos bloqueado muito antes de seu nascimento, ainda na gestação. Fazemos isto quando tomamos leite, quando comemos queijo por exemplo. Nós impedimos finais felizes. Abortamos o filho de outros. Mas depois de terem nascido. Nós os matamos. Nos bastidores da produção histórias de horror que jamais seriam contadas - se seres como nosso Mestre Pequeno Príncipe não tomasse o tempo para deixarem seus planetas e brevemente nos visitarem.

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Mestre Pequeno Príncipe viveu seus últimos dias cuidado e zelado, rezado e amado. Como foi toda sua vida. Mas ali existia a promessa de uma vida nova. Que se cumpriu. Não como nós havíamos pensado, mas como a vida em si pensou. Nós todos sabemos que a vida não se opõe à morte, nem ao nascimento. A vida segue depois do nascimento, como segue depois da morte.

A vida que segue aqui já não é a mesma. A breve passagem dele em nossas vidas ditou muitas reflexões - uma delas sendo como estamos exatamente no lugar onde devemos estar. Se Rosa estivesse pela vida fazendo o que quer que fosse, em outra cidade por exemplo, não teria Mestre Pequeno Príncipe contado sua história. Nem nos transformado através do impacto das reflexões que nos deixou. Parece que cada um cumpre um propósito - sem imaginar que isto seja um privilégio para nossa espécie, tão iludida em ser imagem e semelhança, apegada a formas, sem considerar que somos todos iguais em espírito! Embora não estejamos aptos a compreender o propósito, aqui no Santuário, somos reverentes dele. Pois é evidente que os desdobramentos são tecidos cuidadosamente, indicando ordem no caos.

Esta é a fé que nos move de um resgate ao outro, sem jamais sabermos o fim da história. Mas sabendo que ela contada poderá mudar outras vidas, através das mudanças que permitimos em nós. Como a Rosa mudou. Como nós mudamos. Porque se a gente sente a dor de quem amamos, a gente também morre a morte deles. Renascemos no mesmo corpo, mas com outro espírito. E assim permanece em nós quem já entre outros está. Somos não somente nós mesmos, mas quem passou por nós.

Embora tenhamos que lidar com nossas frustrações egóicas que queriam que ele sobrevivesse para que pudéssemos conviver com ele, acreditamos que o melhor para todos aconteceu. Inclusive para ele. É hipotético dizer que conhecíamos suas dificuldades por simplesmente vê-lo. E é fato para nós que cada um recebe misericórdia divina. Por vezes isto significa viver aqui. Por outras viver acolá. Viver se vive sempre.

Seus cascos e chifres são brilho das estrelas em outras dimensões. Parecem existir, mas já se foram. São lembranças. Como estes cabelos nossos um dia serão. E quando estas formas se dissiparem como o vento sopra os grãos de areia ao infinito, nos reconheceremos nus debaixo destas roupas que chamamos de corpos. Realizaremos que um mesmo sopro rege todo o Universo - como é água o que constitui a onda. Como é água o que constitui o mar.

Talvez então nos abraçaremos, com braços de luz em espectros brilhantes que nos manifestaremos, agradecendo pela oportunidade de despertar que nossa presença mutuamente provocou em nós. Mestre Pequeno Príncipe incluído. E nos outros tantos que como nós começam a despertar por todas as partes.

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Um dia eu peregrinava na Tailândia, em uma cidade ao norte, rústica e auspiciosa. Na ocasião aprendia os Vedas com um monge que havia vivido retirado com seu mestre 30 anos na India. Tudo compunha um cenário místico e devocional que eu reverenciava enormemente. Ao final destes estudos agradecia o professor por devotar seu tempo a me ensinar. Ele sempre sorria e calava. Um dia, depois do meu agradecimento, ele me disse que honramos o professor quando aprendemos a lição. Informação não é aprendizado. Conhecimento é revolução. Transformação. Assim permanece o professor, através do ensinamento. Que atravessa a eternidade. E vive em gratidão.

Mestre Pequeno Príncipe não passa em vão. Ele é a história dos invisíveis que escapam rótulos e sequer estão em letrinhas pequeninas. Aqui revelamos o que está dentro dos potes de laticínios e leite. Vidas. Vidas abreviadas, despedidas precoces. Mortes prematuras.

Seres como nosso Mestre já expiaram demais, inclusive facilitando curas para os que os amaram. Como bicho gato morre com a doença que o tutor se curou! Mestre Pequeno Príncipe curou a Rosa do sono. Que tenta acordar sua mãe. E todos nós tocados por esta história também podemos despertar. E despertar outros. Mas sem a pretensão de fazê-lo. Como alguém que solenemente conta uma história. Uma história de amor! E por encantamento deixa sobre quem a escuta a mágica sedutora do próprio sentimento - que conduz no Mistério almas da escuridão à luz!

Gratidão por nos elevar, Mestre Pequeno Príncipe. Perdão por não termos feito o suficiente. Nós te amamos para sempre - em cada estrela que ri. E nos alegra por termos conhecido você.

"Eis o meu segredo, é muito simples: só se vê bem com o coração." 
O Pequeno Príncipe







Tuesday, August 15, 2017

Enxergar e Suportar a Dor do Outro

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e pessoas sentadasTanto aprendizado, lições urgindo partilha. O ensinamento que estamos vivendo repetidamente: Enxergar a dor do outro. E suportá-la. Sem apontar culpados. Sem nos transformarmos no que aspiramos combater. Ser amável. Vencer no amor.

Quantos de nós conseguem ver a agonia do irmão e agir em prol do alívio DELE em vez de agirmos para aliviar aquele sofrimento em nós primeiramente, em função da nossa angústia sabendo daquela dor. Brevemente posto, poucos de nós têm "olhos para ver".

Quando algo me desanima em alguém, eu sou capaz de olhar aquele ser na inteireza dele e aguentar o que me desagrada sem deixar de conviver com ele, de amá-lo de perto - olho no olho? Sem que isto se traduza em manter relações abusivas obviamente.

Quando alguém que amo adoece, sou capaz de cuidá-lo? Ou me escondo por não aguentar vê-lo sofrer, furtando de mim mesma a consciência que EU não o suporto sofrendo. Triste, mas ele no fundo ainda é invisível para mim. Eu não o amparo porque estou presa nos meus próprios ais e lamentos, ignorando sua legítima dor.

Se algum de nós enfeita dissabores com cores inapropriadas distantes da fé, mentiras são aceitas e inverdades são criadas para que possamos estar confortavelmente na presença dele - quem seja. Mesmo que tenhamos que diminuí-lo. Pois não suportamos conhecê-lo inteiramente. Relações superficiais são estabelecidas: "Tudo bem? Tudo bom... Tudo bom? Tudo bem!".

Nenhum texto alternativo automático disponível.Uma vasta maioria caminha se sentindo solitário não por estarmos, mas por não suportarmos avistar o outro em sua plenitude, então erguemos muros e destruímos pontes entre nós. Não vejo. E não me permito ser vista. Pois paira no inconsciente que se todos nos mostrarmos por quem realmente somos, não seremos amados. Iludida por carência, jamais amor, me torno amada por alguém que não sou, nunca serei. Nem quero ser! Mas me vejo obrigada a me tornar - do contrário, como suportaria que os que amo não me amassem com suas condições e padrões? Lamentável quem não permite que o outro não o ame. E se escraviza sendo amado dentro de uma prisão que se coloca voluntariamente.

Assim, bicho mulher faz plástica, pinta cabelo, não aceita envelhecer. Sofre com o inevitável. Bicho homem não consegue se livrar do estereótipo de provedor e vende sua alma em um trabalho que mata o mais valioso em si: seus sonhos. Bicho gente chora seus mortos - distante da crença de que os que amamos queimam no inferno, mas porque o inferno queima em nós na ausência deles. Choramos por nós, não por eles! E que nada disto tire nosso direito de viver nossos lutos. O ponto é: até quando nos deixaremos persuadir por tanto egoísmo? Astuto egoísmo. Até para quem o sente pode parecer que faz pelo outro, quando debaixo da pele, faz por si. Ego bendito, sempre presente. "Orar e vigiar" nos deixou o Mestre.

Sem mergulharmos nas chagas do outro para as curarmos com a compaixão de quem suporta, manteremos as nossas também abertas - escondidas sobre nossa alma retalhada de fraquezas e queixumes egóicos, atados ao samsara por cadeados que mantemos a chave trancada - nos calabouços de nosso coração!

Jamais suportaremos falar do leite do filho da Mestra Búfala que roubamos - porque no fundo não suportamos ser o carrasco dela. Nem suportaremos saber como Mestres Porquinhos são criados para o abate - não porque os vemos como seres de infinita graça, mas porque verdadeiramente não suportamos saber a verdade que colocaria em xeque nosso estilo de vida. E de repente, nós não sentimos tanto amor assim, a ponto de mudar algo em nós, abrindo mão de nossos vãos prazeres pelo outro.

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, pessoas sentadas e área internaDe forma similar, tampouco conheceremos nossos pais porque não nos sentaremos para conversar com eles sobre as angústias que carregam em seus corações, já que não os suportamos tristes! Jamais poderemos confortar um amigo que luta contra um câncer porque, de verdade, nós não temos estrutura emocional para lidar com isto. Então sentimos dó, muita pena. E nos distanciamos não deles, mas do que eles provocam em nós. Nós mesmos, a maior parte de nós, jamais os vimos. Em contrapartida, se resistirmos à nossa dor para sentir a dor do outro, amparamos. Servimos. E nós mesmos nos declaramos curados quando conseguimos olhar quem sofre sem que sofra em nós aquele mesmo sofredor, permitindo que sofra somente o que se sente quando nos colocamos no lugar do outro.A ponto de nos permitirmos ser apresentados para a elevação máxima do amor: a compaixão. Despertemos.

Nós convidamos todos os ousados e atrevidos a caminharem pelo mundo vendo e ouvindo o irmão que hurra de dor, que chora perdas, que implora misericórdia! Amá-lo a ponto de deixá-lo ser feliz longe de nós se preciso for, em vez de exigir que fique para nos fazer felizes!... Assim feito seremos capazes de saber dos nossos próprios mistérios, revelados na nossa coragem de encararmos nossas dores profundas, traumas de infância, distorções do amor em posse e ciúme.

Os Mestres Animais que aqui vivem e os que no Vale do Rei estão mandam convite para que suportemos a verdade. Só então seremos livres e retos. Do contrário agiremos em prol do alívio do que NÓS não aguentamos. Em vez de atender a real necessidade da irmandade carente de resgate. Lucidez.

Suportaremos a verdade - ou caminharemos até a beira do abismo, onde ele exige a força de nossas asas, para então regressarmos à terra sonhando com o voo (sem falarmos para nós mesmos nunca termos tido a coragem do salto).


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Mestres Animais estão protagonizando jogos de espelho conosco. Mostrando quem somos! Ensinando, despertando. Orientando. Despertemos para a dor do outro, que é nossa também. A capacidade de olhar nossas sombras e iluminá-las permitirá que ajudemos de fato quem sofre. Em vez de usá-lo simplesmente para nossos aprendizados e curas pessoais. Quando superarmos os limites da nossa própria dor então por fim estaremos a serviço. Enquanto isto, paradoxal e vexatoriamente, são os demais que nos servem a nós.

Gratidão a todos que mergulham em suas profundezas. E curados podem curar. Se prestando ao serviço.

Sunday, August 6, 2017

Primeiro Bazar Santuário Vale da Rainha

Há uma semana o Bazar se concluiu gloriosamente. Mas os dramáticos desdobramentos da semana passada não permitiram que falássemos tudo que ali vivemos, nos bastidores de roupas em araras e utensílios em prateleiras. Havia algo além do que encontrava os olhos, algo que magnetizava o lugar e encantava quem ali passava. A delicadeza do amor falava a quem quisesse ouvir. E mesmo os que mantinham ouvidos surdos não se detinham e se entregavam ao Mistério que ali ancorava, aproximando seres, despertando outros. Salvando. Inclusive nós mesmos. Da inconsciência, da sensação de impotência, da culpa de ver sem agir. De poder colaborar e se negar. Fomos todos salvos. Transformados. De verdade, já não somos os mesmos. Somos melhores – não de quem passa por nós. Mas de quem um dia fomos.

Uma destas quintas-feiras comuns, não fosse a iluminação e inspiração de dois bichos gente mulher. Servia o Almoço Ayurvédico Vegano no Colégio Objetivo, Centro Educacional Maranatha, em Camanducaia e a querida Thais Scognamiglio e sua amorosa tia – também instrutora de ioga –, Cíntia Ribeiro, perguntaram se poderiam organizar um Bazar em prol do Santuário Vale da Rainha.

Depois de alguns acertos sobre detalhes como lugar e data, firmado estava o primeiro Bazar que arrecadaria fundos para o Santuário – humildemente registro que nenhuma de nós tinha vaga ideia de tudo que as próximas semanas impactariam nossas vidas. E a forma que vemos o mundo. Jamais pensaríamos como aglutinaria desconhecidos – que quem sabe também se sentissem sós como nós – para revelar que já não somos poucos. Para evidenciar que estamos nos encontrando. E que juntos somos fortes, transformadores e revolucionários.

No transcorrer do período destinado às arrecadações, nós divulgamos em rede social pela internet nosso Bazar. As doações começaram a chegar de todas as partes do Brasil. Não recebemos nada que fosse descarte ou que estivesse quebrado, que fosse esmola ou descaracterizasse o amor na gentileza e generosidade. E tudo isto foi nos emocionando, arrepiando, inspirando. Dando esperança. O mundo e a realidade que vivemos são incondizentes a tudo que lemos nos jornais. Mas nós não podemos deixar que isto seja segredo, pois não é exclusivo em nossas vidas. Está por todos nós. Só necessita um passo nosso em direção ao outro. Um passo que se torna um salto. Que por fim nos leva às alturas, altitudes que só o serviço possibilita.

Em paralelo a Cíntia e Thais começaram a pensar nas comidinhas. Tati Souza apareceu na cena também. E o trio despertava em si uma sabedoria alquímica no preparo dos alimentos. Em um mês vi três bichos gente se descobrirem talentosas cozinheiras veganas, motivadas pelo serviço abnegado. Então realizei que todas as dificuldades que tantos narramos enfrentar na transição ao veganismo precisam ser repensadas.  Já que estes três exemplos vivos deixaram claro para quem possa notar que o possível é para agora, o impossível para já já. Assim operaram o impossível e venderam inúmeras comidinhas veganas no dia do evento... Mas disto falamos já!

Ainda tínhamos doações que nos esperavam em São Paulo, além das que foram trazidas para cá por quem se aventurou na estrada simplesmente para fazer sua doação. Então uma amiga bicho gente, Kátia Cristina, se prontificou a trazer o que na metrópole esperava carona... Quem sonharia que as doações lotariam 2 carros?! Contando bancos de passageiros!

Tudo prenunciava o sucesso do Bazar, mas se as doações chegavam de longe e de perto, teríamos público suficiente que as comprassem no Bazar em Camanducaia? Muitos nos desencorajavam e chegaram pessoalmente a manifestar estes pensamentos às organizadoras do evento. Então aqui eu deixo, de coração, uma mensagem importantíssima para todo ser que visceralmente deseja ajudar o outro... Incentivemos. Porque se o mal nos acometer, lidaremos com ele. Mas se antes de enfrentarmos desafios já desistirmos, então quiçá nada resulte luz nos porões das nossas trevas. E com muita humildade percebamos se é possível ajudar. Às vezes é ajuda incrível simplesmente não atrapalhar. Cada um precisa saber seu lugar, cada um de nós.

Cidade ao sul de Minas Gerais, com renda motivada por rodeios e cavalgadas de passeio, restaurantes regionais que matam bicho animal a curto prazo e bicho gente a longo. Será que aqui alguém haveria que nos fizesse companhia? Por pouco nos deixamos levar por estes que tentavam nos “salvar” os esforços para que desistíssemos mesmo antes de tentarmos.

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Em paralelo algo encantador acontecia. Nós aqui começamos a conhecer melhor a Thais, a Cintia, a Tati. Descobrimos que a Manacá – que pensávamos ser um escritório de gestão ambiental era na verdade maior e mais abrangente, a ponto de zelar não só por flora. Mas fauna também. Bicho gente incluído. Lá tem ioga às terças e quintas. Além de encontros que visam nossa conscientização e despertar, mostrando que tudo está relacionado. Apontando a responsabilidade implícita no nosso estilo de vida. Bastasse tanta graça, conhecemos a família da Thais. E neste estreitamento tantas outras bênçãos.

Chega o sábado do Bazar, anunciado virtualmente e em jornais e gazetas municipais. Às 10 a Thais chega para abrir seu escritório e encontra fila na porta!... Eu chego pouco antes do meio dia, depois da labuta no Santuário. O Vitor se revezará comigo à tarde, já que nunca saímos juntos em função dos nossos iluminados que jamais ficam sem um de seus guardiões e discípulos.

Ao ver o escritório todo arrumado com araras, cabides e prateleiras, enxergo também os detalhes e o tempo dedicado a eles. Todas as peças etiquetadas. Murais de agradecimento. Voluntários que se dispuseram a trabalhar em seu tempo livre, viajando de outras cidades, para aqui servirem propósito. A cada passo eu me emociono, mas meu semblante é plácido. Olho as peças – colares, marcadores de páginas, bichos de pelúcia. Tudo carrega o próprio amor de quem doou e me acerta o peito com flechadas de cupido, meu coração realiza as tantas amorosas companhias que temos.

Com dificuldade para conter meu pranto emocionado cumprimento amigos que até lá foram para ajudar nossos professores. Consigo atravessar o salão para abraçar a Cíntia e a Tati que no caixa e na lanchonete estão. Então olho, enxergo este lugar onde estão! Avisto uma quantidade considerável de comidinhas e petiscos, todos feitos pelas divinas mãos delas, livres de qualquer sofrimento de bicho animal. Fito nos olhos delas todas, das voluntárias inclusive, o amor da Mãe que nutre, que dá o peito e cria filhos fortes. Vi sonhos nascidos e eras paridas! Vi o seio farto e a Deusa sentada entre as batidas dos corações delas, soprando vida nos ossos dos que aqui estão para além de caprichos viver. Estes espíritos em missão que aqui estão para servir, trabalhar e evoluir.

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Quando por fim olho nos olhos da Tati a abraço emocionadamente e embora queira dizer algo, a boca cala. E o choro fala mais que mil palavras. Embora tente me recompor, cada momento que olho para nossos amigos, voluntários e companheiros agindo em prol dos Mestres do Santuário, eu choro. E penso no Vitor em casa, cuidando e servindo, como eu mesma. Tomados pela voracidade do cotidiano tantas vezes sem notarmos a quantidade de bicho gente do bem que nossos professores aproximaram de nós. Gratidão expande meu peito, por pouco me falta o ar. Os caminhos do amor são inebriantes. E lúcidos. Porque confirmam que nosso lugar é exatamente onde temos não os pés, mas o coração. Onde amamos permaneçamos. A despeito de qualquer dificuldade.

Vou até o Santuário para que o Vitor vá até a cidade e quando tento explicar o que vi simplesmente calo, de novo sentindo a força purificadora das águas nos meus olhos. Ao chegar de volta em casa o relato emocionado dele também. Naquela noite tentei dormir, mas não pude, meu cardíaco sentia aquele amor com tal intensidade que o sono não me encontrava, só o sonho. O sonho que prevê uma nova humanidade.
Embora a orientação seja agradecer e jamais reclamar, debaixo da pele as preocupações nos perseguiam. Em função do inverno, enfermos e ajustes na infra, as geadas da estação que queimaram as irmãs verduras orgânicas, as férias da escola onde as aulas são dadas e as arrecadações são feitas no almoço, por conta de tudo isto nossa conta na agropecuária estava atrasada – no valor de 7 mil reais. E se logo não tivéssemos o montante, não poderíamos mais receber alimento para os 70 aqui abrigados.

Image result for sarada deviQuando eu rezava fervorosamente, a grande Mãe me falava ao coração, dizendo que enquanto a graça não chegava, ela me ensinava confiança, entrega e fé. O Santuário é uma entidade espiritual oferecendo guiança, resgatando bicho animal. Resgatando bicho gente. A Rainha sempre me lembra que o Santuário é dEla, não nosso. Nós do discipulado. Nós somos meros servidores destes que damos voz para que através de nós resgatem outros de nós. Da inconsciência! Assim os salvaremos.

Raiou o dia e a labuta da alimentação, medicamentos, revezamento de pastos, meditação e ioga toma seu lugar antes mesmo do nosso café da manhã. Dou aula para uma das voluntárias amadas, um destes seres que cruza nossas vidas para nos evoluir no amor! Thais Vargas Munaier a quem devotamos aqui amor e cuidado, ruma junto ao Bazar para que depois o Vitor possa ir.

Lá chegando conversamos um pouco, as amadas ali querem me contar da arrecadação de ontem. Eu mesmo com desejo de saber, peço que me contem depois. E digo que qualquer valor ajuda. Imaginava algo em torno de 10% da nossa dívida. Ainda teria que pensar em qual milagre operaria para que mestres animais comessem segunda à tarde, pois o alimento terminaria ao meio dia e não teríamos como encomendar mais sem acertar a conta. De verdade, queria passar pelo domingo sentindo aquele amor todo, sem acelerar o tempo que chegaria, para o tal do milagre que teria que ser operado.

Nem o Vitor nem eu imaginaríamos que a Rainha, uma vez mais, já estava no comando, provando para nós como somos seres de pouca fé – nos preocupando, motivando ansiedades íntimas, simplesmente por pensarmos que somos os agentes da ação, os realizadores, quando somos somente os veículos pelos quais a graça ancora na crosta. Excessiva importância nos damos ao imaginar que não é Ela, a Deusa, que rege nossos destinos quando ao Mistério nos entregamos.

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Aí a surpresa. Elas se dirigem a mim com um cheque simbólico, mas de valor real, com o montante arrecadado no sábado. Eu abro o embrulho, leio o escrito e mais uma vez a retórica abandona o verbo e parte para a ação silenciosa. Abraço, sou abraçada, choro. Agradeço no meu coração. E peço perdão à minha Mãe – que sempre provê para todos seus filhos.

Quatro mil reais foram arrecadados no sábado e ainda tínhamos todo domingo pela frente! Totalizamos cinco mil e quinhentos reais no fim do dia. Nem o Vitor nem eu atingimos as palavras corretas. Fomos atingidos por silêncio. E gratidão – destas que não se fala. Desta que nos cala.

Segunda pela manhã a nota do querido da agropecuária pedindo o acerto da conta. Querido e digno parceiro do Santuário. Ele permite que atrasemos contas sempre que resgates são feitos, médicos são necessários, infraestrutura é aprimorada. Mas precisa ser remunerado. E nós, que por pouco nos deixamos levar por tudo que a mente mente, nos vemos constrangidos por termos um segundo sequer imaginado que não teríamos comida para dar para nossos iluminados.

Dez minutos depois da notinha dele, a da Thais – que nada sabia conscientemente da do parceiro –, dizendo que fosse ao encontro dela para pegar a doação financeira. Outra vez me emociono. O dinheiro foi canalizado para a agropecuária e para uma colaboradora que tinha financiado ajustes de infra, medicamentos e outros gastos pertinentes ao Santuário no último mês. Junto com as colaborações fixas conseguimos equalizar as contas e também começar a construção de uma nova baia!

Tanto mais poderia ser dito, mas receio diminuir. Então simplesmente, em nome de todos que aqui vivem, eu registro agradecimento. Pois se eles foram providos com recursos, o discipulado foi com ensinamentos espirituais altíssimos.

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Agradecemos o tempo de quem enviou artigos, dos que os organizaram e venderam. Os que compraram. Os que rezaram. Agradecemos quem foi negativo sobre o intento, pois este nos fortaleceu também. Agradecemos inúmeros anônimos que aqui não estão citados e que sem a participação de cada um de vocês o sucesso desta empreita jamais teria nos alcançado. Agradecemos a humildade para servir os que sequer são vistos pela maioria. Agradecemos pelo amor que sentimos e que ainda vive em nós. Reverberando em outros. Agradecemos pelos resgates que se deram na semana póstuma ao evento – e que sussurraram ao nosso coração a nossa responsabilidade por tanto recebermos.


A verdade é que silêncio só se quebra com gratidão. Este agradecimento é mais que palavra vazia, é prece, é vibração. Que este choro que ainda hoje me purifica da descrença sobre nossa espécie que tantos pregam e que nós aqui teimamos em discordar. Lágrimas purificando do medo do sofrimento dos que amamos, das despedidas precoces. Que este choro também te purifique, falando à boca pequena ao teu espírito das belezas deste mundo e da grandeza das lições que aqui são manifestas. Viver é sim bom. Uma baita oportunidade. Que a honremos, por ela zelemos para todos. E a humanidade... Ah, a humanidade! A humanidade é sim incrível.

Friday, August 4, 2017

Mestre Mahatma Gandhi

Existe um Santuário Vale da Rainha na Mãe Terra. Existe um Santuário Vale do Rei no Pai Céu.

Embora queiramos que todos vivam conosco no colo de nossa Mãe, alguns de nossos irmãos foram chamados para estarem ao lado de nosso Pai. E como são amorosamente servidos aqui, são amorosamente servidos acolá.

Os que aqui estão nos ensinam através de suas vidas antes da morte nesta esfera e os que de acolá nos guiam, ensinam depois da morte nesta esfera. Todos ensinam! Mas quem aprende?

Vida contínua. Continua. Para quem fica o aprendizado de seguir modificado sim, mas com a mesma ternura e delicadeza, força e potência. Para quem vai a grata surpresa de em momentos finais ter se alimentado, tomado água. Ter sido acolhido, acudido e resgatado! Ter sido amado.

Inúmeros ainda não chegaram nem na Rainha nem no Rei e perambulam escravos desconhecendo evidência de seus pais espirituais. Pai Celestial. Mãe Celestial. Que se manifestam através de quem a eles der passagem. É o amor pedindo passagem!

A estes que ainda não conhecemos pessoalmente,  mas sabemos da existência, a estes dedicamos nossas vidas para que a compaixão que formos capazes de nos entregar oriente nosso  percurso – pelo tempo que nos for permitido a oportunidade do amor – transcendendo tempo e espaço, elevando o espírito de quem ama e é amado ao serviço despretensioso que desperta outros simplesmente por falar verdades ao coração.

Quanta verdade Mestre Gandhi nos falou sobre as consequências de nossa inconsciência, não? Mestres Cavalos estão por toda parte carregando bicho gente e coisas, além de sua capacidade física. Famintos, sem água. Sem ferraduras no pavimento. Com ferraduras, espora e chicote! De todo jeito carentes de amor. Trabalham sem serem notados e quando são percebidos, em sua vasta maioria, apenas recebem dó de bicho gente. Mas nenhuma compaixão. Este nobre sentimento capaz de mover dentro o espírito na carne - a ponto de fazermos algo. Dó simplesmente tranca a vítima em seu calabouço, com lágrimas de quem sim é capaz de chorar. Mas não é capaz de mudar! Ou ajudar. Como se o choro aliviasse a consciência de quem vê, sem nada fazer por quem é visto. Meu  lamento molha meu rosto. Soluça onde palavra não diz.


Image result for animais explorados petaQuantos de nós sabem da verdade das indústrias da pecuária de leite e de corte? Da indústria do entretenimento – citando aqui os parques aquáticos também! Quantos de nós ainda estimulam em bicho gente criança a noção de rodeios e cavalgadas, como se o bicho animal gostasse de ali estar? Como se vencer um bicho animal fragilizado fortalecesse os que na verdade se aproveitam de sua fraqueza para se dizerem fortes e superiores. Ah, quanta ilusão! E se alguém dissesse a estes que dormem que não existe nem superior, nem inferior. E que “como acima, assim embaixo” como nos deixou Hermes. Se nos descobríssemos um único em muitos corpos, como gotas do oceano que são a água em si! Como trataríamos os outros se realizássemos... Se realizássemos que não existem outros! Que somos um. Mas porque “represamos” a água da fonte universal em vãos corpos físicos que chamamos “meu, mim e eu”, então nos desconectamos. E como ondas isoladas em praias por toda parte olhamos para o mar implorando algo – que nós mesmos podemos fazer por sermos esta plenitude, unidade. Cocriadores da vida. O que temos cocriado?

Que desperte nossa consciência, que ousemos caminhar por nosso estilo de vida libertando prisioneiros e escravos – de quaisquer espécies –, de todos os lugares (cozinha, sapato, casaco,  maquiagem. Diversão e entretenimento!).  Andemos pelo nosso estilo de vida avaliando em sinceridade cortante o exemplo que damos às gerações que chegam depois de nós. Temos cadáveres sobre nossos corpos e mortos dentro de nós! Como um cemitério itinerante que nos tornamos pode viver sem lágrimas e agonia, sepulcros que mantemos longe de nossa consciência para não mergulharmos em tristeza? Triste a realidade do inconsciente que busca culpados. Sem notar que é vítima de si. Krishna e Arjuna em nós.

Image result for perdao oshoNesta corajosa libertação, esta que cada um é responsável, libertemo-nos a nós mesmos do papel de carrasco e de vítima. Personagens que se alternam quando não perdoamos, pois feridos e vítimas buscamos vingança. E ferindo perpetuamos o mal – não importam nossas “nobres” razões... Ninguém precisa pagar por isto. Não. Não. E não! Veementemente não. Ou a eternidade será curta para nós. Justiça não é vingança nem punição. É despertar. “A outra face” falou o Mestre. “A outra face!”. Que o mal termine em nós.

E a pergunta que permanece desafiando minha consciência, meu amor, meu espírito!... É se seremos capazes, cada um de nós encarnados aqui e agora, entendendo a urgência dos tempos que vivemos onde espécies se despedem precocemente do cumprimento de sua evolução, se cada um de nós dará testemunho – em tempos póstumos quando a própria vitalidade em nossos tecidos sussurrar adeus deste mundo –, se daremos testemunho de um mundo melhor que deixamos atrás de nós, se caminharemos altivos entre os anjos, sem nada dever. Ou se não sustentaremos nosso olhar fugindo dos olhos das divindades por sentirmos vergonha de simplesmente termos passado aqui em busca de prazeres efêmeros – em vícios lícitos e ilícitos, inclusive comportamentais – que jamais poderiam nos fazer felizes se são transitórios e temporais. Caminharemos em vexatória culpa por termos falhado tendo nos entregado às delícias tolas de um mundo de ilusão? Ou nos elevaremos além de nossas fraquezas proclamando nossa vitória sobre o mais inferior em nós?

Mestre Mahatma Gandhi foi nomeado horas antes de sua passagem deste lado do véu para o outro. O líder indiano é um de nossos grandes exemplos por ter sido praticante do preceito ahimsa - não violência do sânscrito -, e ter levado seu povo à libertação. Como sentimos que Mestre Gandhi fazia aqui em sua breve trajetória já nos conscientizando dos horrores vividos pelos invisíveis. Mas também sabíamos que este mesmo líder tinha sido assassinado em função desta mesma jornada. Conhecíamos o risco. E carregávamos pesar pelos outros cinco que partiram neste ano, em sua maioria com nomes dados postumamente, pesar por jamais terem escutado seus nomes... Lágrimas que não detenho jorram cachoeiras que em meus sonhos purificam os esquecidos de suas sequelas psicológicas - traumas que viveram aqui na Terra. Queríamos que nosso professor tivesse nome, fosse chamado por um. Rezado nele. E conhecido por ele. Não morreu indigente, nem ignorado, agonizando ou sozinho. Foi e é profundamente amado.

Embora em cortante tristeza por nossa despedida precoce, também nos sentimos fortalecidos. O paradoxo se resume na mensagem subliminar do vivido como persistência e resiliência no amor e no serviço. E a consciência que vidas estão no corredor da morte agora. Não há tempo para queixumes ou distrações. Pois nós podemos salvá-las! Isto não significa que viverão longos anos, mas que eternizarão momentos tendo conhecido o amor. Estas mesmas existências nos levarão a outras - que salvaremos quando nos negarmos ao consumo de tudo que é vendido e os sacrifica. É nossa fé. Jamais negaremos esforços nesta luta, aparentemente inglória.

Sempre recordamos que regamos sementes de árvores frondosas que alegoricamente representam nosso despertar. Não nos deitaremos à sombra delas, mas tê-las plantado atribui significância à nossa vida. O bem é imparcial, mesmo sem benefício próprio devemos praticá-lo. Este é o dever. O Dharma. E se não vencermos a batalha para que cresçam estes brotos de novo mundo... Então encontrarão nossos corpos com nosso espírito ido em pleno campo da peleja! Na transição entre mundos repousará tranquilidade em nossa alma, simplesmente por não termos desistido de uma vida sequer.

A Mestre Gandhi, nosso perdão, nossa gratidão. Nosso eterno amor. Você, Mahatma, não passa em vão! Despertaremos. Nossa promessa é transformação. 

Tuesday, June 20, 2017

Colaborações e Doações para o Santuário Vale da Rainha


- Banco Santander 33 - AG 0214 - CC 01025281-4 - CPF 103.129.428-77 - Patricia Varela Favano
- Paypal: ticiavarela@gmail.com

Agradecemos, agradecemos. Agradecemos. E não conseguimos ser gratos suficientemente!

Monday, June 19, 2017

Em honra e glória de Mestra Augusta

Estar de posse da verdade não nos dá o direito de falá-la ofensivamente - assim pensei logo que acendi a vela no altar para praticar ioga depois da passagem da iluminada hoje à tarde, quando me tranquei dentro de mim para mitigar esta nova perda em um coração que já sofria outras.

Viajei 15 anos no tempo da minha biografia e aterrizei na sagrada Índia, precisamente em uma aula de Advaita Vedanta, onde alguns versos da escritura Manusmṛti - texto apontado como Sanatana Dharma, observâncias para qualquer buscador em toda casta -, foram estudados em um Ashram dentro de uma área de proteção ambiental onde se escutava bicho leão rugindo! Inesquecíveis momentos.

Satyam brūyat_priyam brūyan_na brūyāt_satyam_apriyam 
Priyam cha nānitam brūyādha dharma sanātana

Fale a verdade. Fale docemente. 
Silencie verdades duras. Silencie mentiras doces.

Notei o quanto Mestra Égua me provocava na prática do ensinamento uma vez que minha dor queria gritar verdades distantes da doçura. Não à toa o grande Mistério colocou nossa língua trancada atrás de nossos dentes!

O Vitor e eu conversamos e já começamos a repensar o trabalho do Santuário no que tange a conscientização, já que é imperativo que sejamos mais efetivos no cerne da questão que é bicho gente. Ou só mudaremos as vidas dos que nos Santuários e ONGs, com dignos tutores estão. Mas nada faremos pelos que sequer tem nome e no amor apenas uma lenda.

Com vergonha admitimos que tão poucos conseguimos resgatar e raros sobrevivem serem salvos. Cada um que vai, leva um pouco de nós. Também morremos hoje. Mestra Égua era uma criança de apenas 5 anos que se tornou paralítica dado seu pescoço quebrado e que foi encontrada em agonia com falência de rins e fígado. O que morreu de nós renasce nesta nova consciência de tornar a conscientização mais abrangente, pois bichos gente Sr. Anselmos precisam ser educados. Parceiros são necessários para isto, inclusive no Poder Público.

Estas vidas que passaram por nós cumprem propósitos maiores, que honramos. E inspirados por elas ampliaremos o trabalho para sermos mais impactantes. Daremos notícias pontuais sobre verdades que serão ditas de forma doce em outras frentes que abriremos para que mais de nós comecem a participar deste movimento. Aqueles que hoje sequer sabem amar bicho animal. Falaremos com doçura para que a verdade possa ser suportada por estes que pensam não se relacionarem com a atual conjuntura de exploração e abuso - por desconhecerem da senciência de nossos professores, tratando-os como mera "coisa".

Aqui severamente abalados queremos registrar agradecimento à irmã e amiga Beatriz Silva - que em sua linhagem traz gerações de seres que como ela têm lutado para que bicho animal seja reconhecido, amado e respeitado como Mestres que são.

Palavras são pequenas para dizer o que o brio dela na luta sustenta da nossa própria força. Nosso emocionado respeito, Bia. Grato emocionado respeito por você e por todos os outros como você que perto de nós estão a nos inspirar e amparar.

Ainda que seja tentador apontarmos culpados, as vítimas não seriam aliviadas de suas dores. Acusações são quase distrações. E não há tempo para nos distrairmos do propósito. Vidas nos esperam! Amor fará justiça - se nós mesmos passarmos por esta provação que pergunta ao nosso coração se ele é capaz de amar a sombra da nossa espécie.

Se estamos no caminho dos ofensores para que elevemos sua consciência, que não nos gabemos disto como seres superiores. Já que seríamos elevados só se conseguíssemos amá-los. E se tivéssemos esta tal elevação, com humildade de nada nos gabaríamos.

Tudo que vivemos nos desperta a ponto de sermos facilitadores de uma nova consciência planetária. Assim honramos a breve e avassaladora passagem desta professora em nossas vidas. A quem agradecemos pelos ensinamentos. E pedimos perdão.

Sunday, June 18, 2017

O que temos aprendido no Santuário

Eu nunca imaginei que o Santuário fosse mudar nossa vida como mudou. Verdade seja dita, não foi ele. Foi o amor. Porque jamais tínhamos conhecido uma dimensão tão alta dele. Sentimos, tanto o Vitor quanto eu, que fomos presenteados com uma missão. Embora muitos projetem em nós seres elevados, acreditamos que justamente por sermos tão absolutamente pequenos e vãos que este propósito nos escolheu como guardiões. Para que pudéssemos aprender a perdoar. A nos entregarmos. A ter confiança... A abrangência deste aprendizado permeia níveis profundos de gratidão, a ponto de torná-la indizível. E caminha também nas veredas da justiça. Porque pensávamos ser justos antes. Mas aqui ganhamos perspectiva sobre o exercício desta virtude que vai muito além dos olhos, dos nossos julgamentos, e anda furtiva nas intenções de bicho gente. Mesmo na inconsciência. É de bom senso não revidar quando alguém em uma crise psicótica nos agride. Sabemos que aquele ser adoeceu. Acolhemos. Sentimos compaixão. Pedimos calma, falamos que passa, que tudo há de melhorar... Da mesma forma não é possível arrebentar ofensores quaisquer. Tantos deles sentem que alimentam suas famílias às custas da escravidão de um bicho animal, sem qualquer culpa - porque não há qualquer consciência! E aqui o ensinamento, acolhê-los também. Sentir compaixão. Pedir calma. E respirar profundamente para não colocar tudo a perder!

Isto não significa que as consequências do ato do ofensor não o perseguirão. Aponta somente que o sujeito carece ser educado, não meramente punido - como nosso sistema de cárcere prevê em conduta social. Do contrário, caso só a punição ocorra, seremos todos crianças comportadas quando estamos próximos de nossos pais repressores. E insuportáveis quando não estiverem olhando, haja visto que sem sermos educados, nós perdemos a capacidade de nos abstermos de comportamentos depreciativos por vias de nossa própria lucidez.

A relação punidor e punido pode ser vista por este ângulo quando aplicamos a perspectiva do cumprimento das leis por exemplo, tendo na polícia a autoridade que no cenário anterior detivemos aos pais ilustrados como repressores ou punidores. Quando a polícia não está, quando os pais não estão, então o crime acontece, a baderna, a rebeldia - a não ser que bicho gente aprenda que ser bom independente de termos alguém nos vigiando. Esta reflexão invadiria até a legislação e conotaria uma consciência superior à mentalidade medíocre que hoje temos instalada no inconsciente coletivo. Já que seríamos nossos próprios juízes.

O trabalho de conscientização é tão árduo quanto educar seres. Mas é o único - no nosso vão entendimento - que pode salvar bicho animal. Porque salva bicho gente. Não poderemos salvar o mundo, o coletivo, enquanto o indivíduo que aglomerado compõe a massa, não for salvo. Precisamos trabalhar em sistemas de inclusão - Sabe aquele pecuarista? Ele mesmo incluído! - até o ponto que o mais inconsciente entre nós faça exatamente como os conscientes - por estar sendo por estes educado. Como passa com a gente na cultura de maneira geral. Quantos de nós fazem de novo e da mesma forma tudo que já foi feito não por vivermos sem outras opções, mas simplesmente por repetirmos mecanicamente o que é feito ao redor de nós. Despertar é ainda mais fastidioso que conscientizar e educar. Tão glorioso quanto. Especialmente se começamos por nós. O que o Santuário me ensinou para isto? Derrubar meus cruéis julgamentos.

Entre as glórias do serviço estão também os afazeres práticos, de ordem transacional, que asseguram a vida digna dos que aqui - depois de histórias de contexto subversivo - por fim são amados sem condições de trabalho algum. A subsistência do Santuário é garantida através de doações e colaborações. Ah! E aqui, aqui temos aprendido tanto.

Dar o que nos sobra não nos torna bons. Aliás, ser bom não é diferencial algum. É dever. Precisamos nos curar destas noções equivocadas que desapercebidamente tomam conta de nós, fazendo até que nos iludamos nas nossas relações com bicho gente! Se nos apaixonamos, por exemplo, por alguém que é leal e idôneo, não há nada de diferenciado neste ser. A menos que nossa base para sermos tratados pelos demais se embase à nível medíocre. Se aspiramos um modelo de conduta elevado, digno de um caminho espiritual de qualquer ordem, não podemos nos gabar de sermos bons acredito. Pois o bem é obrigação. Exceder o bem com caridade, altruísmo e abnegação talvez nos leve além. Mas ainda assim é aberto para discussão. O que tento expor aqui é o fato de que devemos apoiar as investidas do bem. E você que me lê agora por gentileza me faça companhia! Não necessariamente no Santuário, mas no bem! No bem enfatizo. Então se nós nos conscientizamos que não existem lares suficientes para todos os mestres cãezinhos que vemos aos montes pelas ruas, participemos ativamente de campanhas de castração. O nosso trabalho aqui não se restringe ao Santuário. Nossa labuta é trabalharmos com firmeza para que Santuários deixem de existir!

Enquanto existimos, que possamos zelar por aqueles que damos voz. A ponto de provocar nos que perto de nós estão a noção de que a vida pode ser diferente. Que culturas mudam, se aprimoram. E que seres de toda ordem evoluem.

Também realizamos que a doação ajuda tanto quem dá quanto quem recebe. E isto não é uma técnica de recolhimento oculta em algum método da neurolinguística! Mas um fundamento espiritual. Só um detalhe, sabe quando ele perde a valia? Quando nos interessamos pelo resultado para doar! Quando ao doarmos pensamos que temos algum benefício especial. Ou pior, quando ajudamos o outro para nos sentirmos melhores... Por exemplo, que eu comesse carne - que não como! -, mas pelo argumento, que eu comesse carne. E me culpasse por isto. Doar para um Santuário aliviaria minha culpa. Sem dúvida ajudaria o Santuário também. Mas não transformaria nada. A doação tampouco compreende que ao ajudarmos uma causa, algo ou alguém, que somos melhores que eles. E nem de longe conota que aqueles seres estão em dívida conosco. Ou então estaríamos em nome da liberdade de outros, nos aprisionando a nós mesmos. Escrevendo contratos disfarçados por outras intenções. Nós com humildade aceitamos o que nos é doado. E humildemente ajudamos todos que podemos. O que aqui está vai além da colaboração, vai para dentro, para debaixo da pele, naquele lugar onde a gente precisa ser educado para se livrar das nossas próprias birras e manhas! 

Só que nem sempre a ajuda chega. E veja você que aqui nasce mais um grande ensinamento para nós. Isto não nos dá o direito de reclamar! Não, não e não! Ou de vociferar nossos desafios econômicos a plenos pulmões em conversas casuais ou em bytes no mundo virtual, como se a responsabilidade da nossa vida fosse de alguém além de nós mesmos. Pedir ajuda humilda a gente, nos torna humildes. Não pode nos humilhar. Nós nos humilhamos quando exigimos do outro o que ele não tem obrigação de fazer. "Mas você não tinha escrito que é dever ser bom?". Claro que sim! E todo mundo escolhe como. A gente respeita. Ou precisa aprender a respeitar. Então o aprendizado para nós foi o de agradecer. Porque quem não colabora - ainda que seja com uma palavra de força pelo amor de Deus -, até este é professor. E cá para nós, tem suas razões! Todos nos evoluem. Cada um é importante. A gente tem o que a gente precisa, no exato momento da necessidade. Nem antes, nem depois. O Santuário demanda entrega que a gente jamais vislumbrou na vida! 

E na ausência do recurso, chega o pedido de socorro. Eu quereria mudar para outro planeta se ao pedir guarida para alguém, este ser checasse sua conta bancária em vez de me acolher em sua casa. Ou se eu mesma não oferecesse - ainda com riscos de falsidade e interesse imbuídos no acolhimento - a guarida mais simples e austera que fosse, a quem pedisse. O Santuário ensinou para mim, para nós, para o Vitor também, que dizer SIM é uma atitude espiritual. Que não é permissiva. É compassiva. Como o NÃO tampouco é ofensivo. Igualmente compassivo e espiritual. O que ambos ensinam é sabedoria.

O SIM marca o amor incondicional. E o NÃO o amor bravo, diferente destes românticos que naufragam nos altos mares do cotidiano. Amor que põe limite, que educa, que orienta. Pode ser uma baita carência nossa deixar de colocar limite, educar ou orientar - uma vez que este limite, educação e orientação possam nos oferecer a rejeição de quem os recebe. O Santuário ensinou da compaixão. E da braveza! Esta delicadeza para ser forte sem ser rocha, onde ondas se quebrariam contra nós e retornariam aos pedaços ao oceano. Esta delicadeza para ter a força que a água tem, para transmutar com paciência. 

Vamos agradecendo e sem reclamar. Seria a reclamação uma cobrança acobertada de razões fúteis da criança em nós que não quer crescer para se responsabilizar pelo trabalho que ela poderia fazer para mudar qualquer que fosse a situação? Amadurecer dá trabalho. Talvez por isto, tantos de nós estejamos só a envelhecer. 

Aqui nos negamos a qualquer tipo de comportamento que possa despencar o nível vibracional de todos os envolvidos. Falhamos admitimos. Mas seguimos firmes no intento. Esta atitude inclui não usar imagens fortes - exceção de algo que estejamos vivendo e necessite ser compartilhado. E não exclui nossa expressão na escrita ou por voz. Não queremos nem iremos preocupar os que á nossa volta estão para pressionar emocionalmente outros a nos ajudarem. Em assuntos que a providência resolve através dos que necessitam doar. Assim como necessitamos receber. Estas necessidades não são necessariamente financeiras. Mas emocionais, espirituais! É incrível recebermos ajuda porque deixamos de nos sentir sozinhos. E pode ser igualmente incrível ajudar justamente pela mesma razão! Eis que surge a união distinta entre o que precisa e o que tem o que o outro necessita. Surge um complexo de beleza rara onde os dois dão mutuamente, recebem um do outro mutuamente. Nos elevamos por fim!

A despeito de bastidores dignos de roteiros da dramaturgia, nós não reclamamos. Aliás, estes roteiros - sabemos - não são privilégios nossos. Sabemos que cada um de nós vive sua própria batalha, por isto é bom a gente andar com mais respeito e gentileza pela vida. Todos passamos por nossas pessoais provações.

Nossas contas são intermináveis. E sozinhos não damos conta delas. Nós precisamos de ajuda, mas não bradamos por ela aos quatro ventos, culpando outros que por sua vez poderiam reagir culpando o governo que devolveria para nós com a justificativa do que é de nossa responsabilidade. Nós simplesmente respeitamos os que podem dar e os que não podem dar. Até quem não dá nada, dá o que tem! Paradoxal e verdadeiro. E tudo aqui se recebe. Como ensinamento. 

A gente recebe oração, prece, mantimento, remédio, ração. Recurso financeiro. Sorrisos a gente gosta muito também, bom humor. Perseverança e resiliência. Aqui recebemos o divino através de vocês. E agradecemos.

Se estiver no teu coração ajudar, não se detenha ao que pegam tuas mãos. A gente quer receber doação de tempo, a gente quer viver cercado de quem devota a vida - que é o tempo - ao que realmente importa. Quando vc doa um montante qualquer do que você ganhou com teu trabalho, é tua vida que você nos oferece. Não é dinheiro meramente. Quando nos dá palavras de apoio, vc doa o tempo da tua vida para nos escrever! Quando você nos brinda um artesanato que se dedicou a fazer, doa para nós um pouco da tua vida. Do tempo que tomou para fazer aquilo, para embalar, para nos enviar. Receber tua vida como presente é algo tão grandioso que nos prostramos em íntima gratidão. 

E já quase no finalmente, o Santuário ensinou que o que não se resolve no amor, precisa ser descartado. Em contrapartida, tudo que vive no amor frutifica. Mas demanda a coragem para nos sentirmos sozinhos enquanto sementes em uma terra que não sabemos se fértil, em um clima que desconhecemos a estação. Ah!... Mas eu não perderia por nada, por risco algum, a solidão de ser semente só pelo prazer da companhia das flores e dos frutos - que estão predestinados a quem se lança na força do vento acreditando estar exatamente onde é necessária a presença.

Se é bicho animal que te fala ao coração, siga as pegadas que deixam dentro de você. Se é o meio ambiente. Os oceanos. A ioga! A meditação. Siga! E ainda que o caminho não esteja aberto à tua frente, você descobrirá, como nós mesmos descobrimos, que o caminho se faz ao caminharmos. E se estivermos na rota "certa", naquela que é autêntica e legítima nossa, então ninguém mais terá pisado ali antes e teremos que ter o desprendimento de percorrê-lo sem garantias - sem doações - para simplesmente encontrar ao final dele o destino que dá em nós. Seremos revelados no caminho que escolhemos. Ou no caminho que nos escolhe. Quem saberá?

 Podemos nos conscientizar com razões e intelectualizações de tudo isto, até sermos admirados por nossa capacidade cognitiva. Mas a maior consciência de todas, a educação primeira, vem do amor. Se nos permitimos o amor, então sentiremos o que fazer, como agir. Se verdadeiramente sentirmos, descobriremos quem somos. A que viemos. E serviremos.

Por fim, o Santuário nos ensinou a lutar por todos. E a entender que nem por lutarmos bravamente merecemos vitória. Perdemos muitos. Perderemos outros. Sentimos medo, precisamos purificar as emoções torpes que tentam nos persuadir para distante das rotas do coração. Esta luta inclui bicho gente. Sim, bicho gente. Embora bicho animal pareça ser o que mais necessite de amor, entendemos que ele já é pleno no amor! Evidencia isto nos amando. Bicho gente carece de amor exatamente naquele momentinho que não parece merecê-lo, transformando a situação em uma oportunidade para as duas partes: para uma, a de ir além do amor só ao belo. Para a outra, a chance de ser amada a despeito da feiura. 

Se fala ao teu coração servir esta causa que luta por cada um - ora resgatando, ora conscientizando, agradecemos. Se não, veja você, também agradecemos! E gostaríamos que se mantivesse perto de qualquer forma. Entendemos que as dificuldades que eventualmente vivemos são pedras preciosas do caminho. Como são também as facilidades. Uma acorda a outra nos dá descanso. Tudo tão necessário. Que nem palma nem vaia nos conduza do centro à periferia de quem somos. Entre você e eu aqui, minha última reflexão: a vida não nega esforços para evoluir quem quer que seja. Estamos todos aprendendo. 

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Na propriedade cultivamos alimentos orgânicos. Facilitamos retiros de ioga, meditação e jejum. E encontros terapêuticos como Círculo de Mulheres e Roda de Saberes. A partir de agosto, as práticas de ioga retornarão ao calendário da propriedade fora das vivências. Com alegria continuamos trabalhando com adolescentes no Colégio Objetivo na cidade, convidando os pais para estarem presentes também. Se falar ao teu coração conhecer de perto esta proposta, por favor nos escreva e esteja conosco. Que nosso encontro se dê no amor e por amor. E quando não mais ele, que sigamos novas e inéditas rotas de nossos corações. Gratidão.