Monday, June 19, 2017

Em honra e glória de Mestra Augusta

Estar de posse da verdade não nos dá o direito de falá-la ofensivamente - assim pensei logo que acendi a vela no altar para praticar ioga depois da passagem da iluminada hoje à tarde, quando me tranquei dentro de mim para mitigar esta nova perda em um coração que já sofria outras.

Viajei 15 anos no tempo da minha biografia e aterrizei na sagrada Índia, precisamente em uma aula de Advaita Vedanta, onde alguns versos da escritura Manusmṛti - texto apontado como Sanatana Dharma, observâncias para qualquer buscador em toda casta -, foram estudados em um Ashram dentro de uma área de proteção ambiental onde se escutava bicho leão rugindo! Inesquecíveis momentos.

Satyam brūyat_priyam brūyan_na brūyāt_satyam_apriyam 
Priyam cha nānitam brūyādha dharma sanātana

Fale a verdade. Fale docemente. 
Silencie verdades duras. Silencie mentiras doces.

Notei o quanto Mestra Égua me provocava na prática do ensinamento uma vez que minha dor queria gritar verdades distantes da doçura. Não à toa o grande Mistério colocou nossa língua trancada atrás de nossos dentes!

O Vitor e eu conversamos e já começamos a repensar o trabalho do Santuário no que tange a conscientização, já que é imperativo que sejamos mais efetivos no cerne da questão que é bicho gente. Ou só mudaremos as vidas dos que nos Santuários e ONGs, com dignos tutores estão. Mas nada faremos pelos que sequer tem nome e no amor apenas uma lenda.

Com vergonha admitimos que tão poucos conseguimos resgatar e raros sobrevivem serem salvos. Cada um que vai, leva um pouco de nós. Também morremos hoje. Mestra Égua era uma criança de apenas 5 anos que se tornou paralítica dado seu pescoço quebrado e que foi encontrada em agonia com falência de rins e fígado. O que morreu de nós renasce nesta nova consciência de tornar a conscientização mais abrangente, pois bichos gente Sr. Anselmos precisam ser educados. Parceiros são necessários para isto, inclusive no Poder Público.

Estas vidas que passaram por nós cumprem propósitos maiores, que honramos. E inspirados por elas ampliaremos o trabalho para sermos mais impactantes. Daremos notícias pontuais sobre verdades que serão ditas de forma doce em outras frentes que abriremos para que mais de nós comecem a participar deste movimento. Aqueles que hoje sequer sabem amar bicho animal. Falaremos com doçura para que a verdade possa ser suportada por estes que pensam não se relacionarem com a atual conjuntura de exploração e abuso - por desconhecerem da senciência de nossos professores, tratando-os como mera "coisa".

Aqui severamente abalados queremos registrar agradecimento à irmã e amiga Beatriz Silva - que em sua linhagem traz gerações de seres que como ela têm lutado para que bicho animal seja reconhecido, amado e respeitado como Mestres que são.

Palavras são pequenas para dizer o que o brio dela na luta sustenta da nossa própria força. Nosso emocionado respeito, Bia. Grato emocionado respeito por você e por todos os outros como você que perto de nós estão a nos inspirar e amparar.

Ainda que seja tentador apontarmos culpados, as vítimas não seriam aliviadas de suas dores. Acusações são quase distrações. E não há tempo para nos distrairmos do propósito. Vidas nos esperam! Amor fará justiça - se nós mesmos passarmos por esta provação que pergunta ao nosso coração se ele é capaz de amar a sombra da nossa espécie.

Se estamos no caminho dos ofensores para que elevemos sua consciência, que não nos gabemos disto como seres superiores. Já que seríamos elevados só se conseguíssemos amá-los. E se tivéssemos esta tal elevação, com humildade de nada nos gabaríamos.

Tudo que vivemos nos desperta a ponto de sermos facilitadores de uma nova consciência planetária. Assim honramos a breve e avassaladora passagem desta professora em nossas vidas. A quem agradecemos pelos ensinamentos. E pedimos perdão.

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