Tuesday, June 20, 2017

Colaborações e Doações para o Santuário Vale da Rainha


- Banco Santander 33 - AG 0214 - CC 01025281-4 - CPF 103.129.428-77 - Patricia Varela Favano
- Paypal: ticiavarela@gmail.com

Agradecemos, agradecemos. Agradecemos. E não conseguimos ser gratos suficientemente!

Monday, June 19, 2017

Em honra e glória de Mestra Augusta

Estar de posse da verdade não nos dá o direito de falá-la ofensivamente - assim pensei logo que acendi a vela no altar para praticar ioga depois da passagem da iluminada hoje à tarde, quando me tranquei dentro de mim para mitigar esta nova perda em um coração que já sofria outras.

Viajei 15 anos no tempo da minha biografia e aterrizei na sagrada Índia, precisamente em uma aula de Advaita Vedanta, onde alguns versos da escritura Manusmṛti - texto apontado como Sanatana Dharma, observâncias para qualquer buscador em toda casta -, foram estudados em um Ashram dentro de uma área de proteção ambiental onde se escutava bicho leão rugindo! Inesquecíveis momentos.

Satyam brūyat_priyam brūyan_na brūyāt_satyam_apriyam 
Priyam cha nānitam brūyādha dharma sanātana

Fale a verdade. Fale docemente. 
Silencie verdades duras. Silencie mentiras doces.

Notei o quanto Mestra Égua me provocava na prática do ensinamento uma vez que minha dor queria gritar verdades distantes da doçura. Não à toa o grande Mistério colocou nossa língua trancada atrás de nossos dentes!

O Vitor e eu conversamos e já começamos a repensar o trabalho do Santuário no que tange a conscientização, já que é imperativo que sejamos mais efetivos no cerne da questão que é bicho gente. Ou só mudaremos as vidas dos que nos Santuários e ONGs, com dignos tutores estão. Mas nada faremos pelos que sequer tem nome e no amor apenas uma lenda.

Com vergonha admitimos que tão poucos conseguimos resgatar e raros sobrevivem serem salvos. Cada um que vai, leva um pouco de nós. Também morremos hoje. Mestra Égua era uma criança de apenas 5 anos que se tornou paralítica dado seu pescoço quebrado e que foi encontrada em agonia com falência de rins e fígado. O que morreu de nós renasce nesta nova consciência de tornar a conscientização mais abrangente, pois bichos gente Sr. Anselmos precisam ser educados. Parceiros são necessários para isto, inclusive no Poder Público.

Estas vidas que passaram por nós cumprem propósitos maiores, que honramos. E inspirados por elas ampliaremos o trabalho para sermos mais impactantes. Daremos notícias pontuais sobre verdades que serão ditas de forma doce em outras frentes que abriremos para que mais de nós comecem a participar deste movimento. Aqueles que hoje sequer sabem amar bicho animal. Falaremos com doçura para que a verdade possa ser suportada por estes que pensam não se relacionarem com a atual conjuntura de exploração e abuso - por desconhecerem da senciência de nossos professores, tratando-os como mera "coisa".

Aqui severamente abalados queremos registrar agradecimento à irmã e amiga Beatriz Silva - que em sua linhagem traz gerações de seres que como ela têm lutado para que bicho animal seja reconhecido, amado e respeitado como Mestres que são.

Palavras são pequenas para dizer o que o brio dela na luta sustenta da nossa própria força. Nosso emocionado respeito, Bia. Grato emocionado respeito por você e por todos os outros como você que perto de nós estão a nos inspirar e amparar.

Ainda que seja tentador apontarmos culpados, as vítimas não seriam aliviadas de suas dores. Acusações são quase distrações. E não há tempo para nos distrairmos do propósito. Vidas nos esperam! Amor fará justiça - se nós mesmos passarmos por esta provação que pergunta ao nosso coração se ele é capaz de amar a sombra da nossa espécie.

Se estamos no caminho dos ofensores para que elevemos sua consciência, que não nos gabemos disto como seres superiores. Já que seríamos elevados só se conseguíssemos amá-los. E se tivéssemos esta tal elevação, com humildade de nada nos gabaríamos.

Tudo que vivemos nos desperta a ponto de sermos facilitadores de uma nova consciência planetária. Assim honramos a breve e avassaladora passagem desta professora em nossas vidas. A quem agradecemos pelos ensinamentos. E pedimos perdão.

Sunday, June 18, 2017

O que temos aprendido no Santuário

Eu nunca imaginei que o Santuário fosse mudar nossa vida como mudou. Verdade seja dita, não foi ele. Foi o amor. Porque jamais tínhamos conhecido uma dimensão tão alta dele. Sentimos, tanto o Vitor quanto eu, que fomos presenteados com uma missão. Embora muitos projetem em nós seres elevados, acreditamos que justamente por sermos tão absolutamente pequenos e vãos que este propósito nos escolheu como guardiões. Para que pudéssemos aprender a perdoar. A nos entregarmos. A ter confiança... A abrangência deste aprendizado permeia níveis profundos de gratidão, a ponto de torná-la indizível. E caminha também nas veredas da justiça. Porque pensávamos ser justos antes. Mas aqui ganhamos perspectiva sobre o exercício desta virtude que vai muito além dos olhos, dos nossos julgamentos, e anda furtiva nas intenções de bicho gente. Mesmo na inconsciência. É de bom senso não revidar quando alguém em uma crise psicótica nos agride. Sabemos que aquele ser adoeceu. Acolhemos. Sentimos compaixão. Pedimos calma, falamos que passa, que tudo há de melhorar... Da mesma forma não é possível arrebentar ofensores quaisquer. Tantos deles sentem que alimentam suas famílias às custas da escravidão de um bicho animal, sem qualquer culpa - porque não há qualquer consciência! E aqui o ensinamento, acolhê-los também. Sentir compaixão. Pedir calma. E respirar profundamente para não colocar tudo a perder!

Isto não significa que as consequências do ato do ofensor não o perseguirão. Aponta somente que o sujeito carece ser educado, não meramente punido - como nosso sistema de cárcere prevê em conduta social. Do contrário, caso só a punição ocorra, seremos todos crianças comportadas quando estamos próximos de nossos pais repressores. E insuportáveis quando não estiverem olhando, haja visto que sem sermos educados, nós perdemos a capacidade de nos abstermos de comportamentos depreciativos por vias de nossa própria lucidez.

A relação punidor e punido pode ser vista por este ângulo quando aplicamos a perspectiva do cumprimento das leis por exemplo, tendo na polícia a autoridade que no cenário anterior detivemos aos pais ilustrados como repressores ou punidores. Quando a polícia não está, quando os pais não estão, então o crime acontece, a baderna, a rebeldia - a não ser que bicho gente aprenda que ser bom independente de termos alguém nos vigiando. Esta reflexão invadiria até a legislação e conotaria uma consciência superior à mentalidade medíocre que hoje temos instalada no inconsciente coletivo. Já que seríamos nossos próprios juízes.

O trabalho de conscientização é tão árduo quanto educar seres. Mas é o único - no nosso vão entendimento - que pode salvar bicho animal. Porque salva bicho gente. Não poderemos salvar o mundo, o coletivo, enquanto o indivíduo que aglomerado compõe a massa, não for salvo. Precisamos trabalhar em sistemas de inclusão - Sabe aquele pecuarista? Ele mesmo incluído! - até o ponto que o mais inconsciente entre nós faça exatamente como os conscientes - por estar sendo por estes educado. Como passa com a gente na cultura de maneira geral. Quantos de nós fazem de novo e da mesma forma tudo que já foi feito não por vivermos sem outras opções, mas simplesmente por repetirmos mecanicamente o que é feito ao redor de nós. Despertar é ainda mais fastidioso que conscientizar e educar. Tão glorioso quanto. Especialmente se começamos por nós. O que o Santuário me ensinou para isto? Derrubar meus cruéis julgamentos.

Entre as glórias do serviço estão também os afazeres práticos, de ordem transacional, que asseguram a vida digna dos que aqui - depois de histórias de contexto subversivo - por fim são amados sem condições de trabalho algum. A subsistência do Santuário é garantida através de doações e colaborações. Ah! E aqui, aqui temos aprendido tanto.

Dar o que nos sobra não nos torna bons. Aliás, ser bom não é diferencial algum. É dever. Precisamos nos curar destas noções equivocadas que desapercebidamente tomam conta de nós, fazendo até que nos iludamos nas nossas relações com bicho gente! Se nos apaixonamos, por exemplo, por alguém que é leal e idôneo, não há nada de diferenciado neste ser. A menos que nossa base para sermos tratados pelos demais se embase à nível medíocre. Se aspiramos um modelo de conduta elevado, digno de um caminho espiritual de qualquer ordem, não podemos nos gabar de sermos bons acredito. Pois o bem é obrigação. Exceder o bem com caridade, altruísmo e abnegação talvez nos leve além. Mas ainda assim é aberto para discussão. O que tento expor aqui é o fato de que devemos apoiar as investidas do bem. E você que me lê agora por gentileza me faça companhia! Não necessariamente no Santuário, mas no bem! No bem enfatizo. Então se nós nos conscientizamos que não existem lares suficientes para todos os mestres cãezinhos que vemos aos montes pelas ruas, participemos ativamente de campanhas de castração. O nosso trabalho aqui não se restringe ao Santuário. Nossa labuta é trabalharmos com firmeza para que Santuários deixem de existir!

Enquanto existimos, que possamos zelar por aqueles que damos voz. A ponto de provocar nos que perto de nós estão a noção de que a vida pode ser diferente. Que culturas mudam, se aprimoram. E que seres de toda ordem evoluem.

Também realizamos que a doação ajuda tanto quem dá quanto quem recebe. E isto não é uma técnica de recolhimento oculta em algum método da neurolinguística! Mas um fundamento espiritual. Só um detalhe, sabe quando ele perde a valia? Quando nos interessamos pelo resultado para doar! Quando ao doarmos pensamos que temos algum benefício especial. Ou pior, quando ajudamos o outro para nos sentirmos melhores... Por exemplo, que eu comesse carne - que não como! -, mas pelo argumento, que eu comesse carne. E me culpasse por isto. Doar para um Santuário aliviaria minha culpa. Sem dúvida ajudaria o Santuário também. Mas não transformaria nada. A doação tampouco compreende que ao ajudarmos uma causa, algo ou alguém, que somos melhores que eles. E nem de longe conota que aqueles seres estão em dívida conosco. Ou então estaríamos em nome da liberdade de outros, nos aprisionando a nós mesmos. Escrevendo contratos disfarçados por outras intenções. Nós com humildade aceitamos o que nos é doado. E humildemente ajudamos todos que podemos. O que aqui está vai além da colaboração, vai para dentro, para debaixo da pele, naquele lugar onde a gente precisa ser educado para se livrar das nossas próprias birras e manhas! 

Só que nem sempre a ajuda chega. E veja você que aqui nasce mais um grande ensinamento para nós. Isto não nos dá o direito de reclamar! Não, não e não! Ou de vociferar nossos desafios econômicos a plenos pulmões em conversas casuais ou em bytes no mundo virtual, como se a responsabilidade da nossa vida fosse de alguém além de nós mesmos. Pedir ajuda humilda a gente, nos torna humildes. Não pode nos humilhar. Nós nos humilhamos quando exigimos do outro o que ele não tem obrigação de fazer. "Mas você não tinha escrito que é dever ser bom?". Claro que sim! E todo mundo escolhe como. A gente respeita. Ou precisa aprender a respeitar. Então o aprendizado para nós foi o de agradecer. Porque quem não colabora - ainda que seja com uma palavra de força pelo amor de Deus -, até este é professor. E cá para nós, tem suas razões! Todos nos evoluem. Cada um é importante. A gente tem o que a gente precisa, no exato momento da necessidade. Nem antes, nem depois. O Santuário demanda entrega que a gente jamais vislumbrou na vida! 

E na ausência do recurso, chega o pedido de socorro. Eu quereria mudar para outro planeta se ao pedir guarida para alguém, este ser checasse sua conta bancária em vez de me acolher em sua casa. Ou se eu mesma não oferecesse - ainda com riscos de falsidade e interesse imbuídos no acolhimento - a guarida mais simples e austera que fosse, a quem pedisse. O Santuário ensinou para mim, para nós, para o Vitor também, que dizer SIM é uma atitude espiritual. Que não é permissiva. É compassiva. Como o NÃO tampouco é ofensivo. Igualmente compassivo e espiritual. O que ambos ensinam é sabedoria.

O SIM marca o amor incondicional. E o NÃO o amor bravo, diferente destes românticos que naufragam nos altos mares do cotidiano. Amor que põe limite, que educa, que orienta. Pode ser uma baita carência nossa deixar de colocar limite, educar ou orientar - uma vez que este limite, educação e orientação possam nos oferecer a rejeição de quem os recebe. O Santuário ensinou da compaixão. E da braveza! Esta delicadeza para ser forte sem ser rocha, onde ondas se quebrariam contra nós e retornariam aos pedaços ao oceano. Esta delicadeza para ter a força que a água tem, para transmutar com paciência. 

Vamos agradecendo e sem reclamar. Seria a reclamação uma cobrança acobertada de razões fúteis da criança em nós que não quer crescer para se responsabilizar pelo trabalho que ela poderia fazer para mudar qualquer que fosse a situação? Amadurecer dá trabalho. Talvez por isto, tantos de nós estejamos só a envelhecer. 

Aqui nos negamos a qualquer tipo de comportamento que possa despencar o nível vibracional de todos os envolvidos. Falhamos admitimos. Mas seguimos firmes no intento. Esta atitude inclui não usar imagens fortes - exceção de algo que estejamos vivendo e necessite ser compartilhado. E não exclui nossa expressão na escrita ou por voz. Não queremos nem iremos preocupar os que á nossa volta estão para pressionar emocionalmente outros a nos ajudarem. Em assuntos que a providência resolve através dos que necessitam doar. Assim como necessitamos receber. Estas necessidades não são necessariamente financeiras. Mas emocionais, espirituais! É incrível recebermos ajuda porque deixamos de nos sentir sozinhos. E pode ser igualmente incrível ajudar justamente pela mesma razão! Eis que surge a união distinta entre o que precisa e o que tem o que o outro necessita. Surge um complexo de beleza rara onde os dois dão mutuamente, recebem um do outro mutuamente. Nos elevamos por fim!

A despeito de bastidores dignos de roteiros da dramaturgia, nós não reclamamos. Aliás, estes roteiros - sabemos - não são privilégios nossos. Sabemos que cada um de nós vive sua própria batalha, por isto é bom a gente andar com mais respeito e gentileza pela vida. Todos passamos por nossas pessoais provações.

Nossas contas são intermináveis. E sozinhos não damos conta delas. Nós precisamos de ajuda, mas não bradamos por ela aos quatro ventos, culpando outros que por sua vez poderiam reagir culpando o governo que devolveria para nós com a justificativa do que é de nossa responsabilidade. Nós simplesmente respeitamos os que podem dar e os que não podem dar. Até quem não dá nada, dá o que tem! Paradoxal e verdadeiro. E tudo aqui se recebe. Como ensinamento. 

A gente recebe oração, prece, mantimento, remédio, ração. Recurso financeiro. Sorrisos a gente gosta muito também, bom humor. Perseverança e resiliência. Aqui recebemos o divino através de vocês. E agradecemos.

Se estiver no teu coração ajudar, não se detenha ao que pegam tuas mãos. A gente quer receber doação de tempo, a gente quer viver cercado de quem devota a vida - que é o tempo - ao que realmente importa. Quando vc doa um montante qualquer do que você ganhou com teu trabalho, é tua vida que você nos oferece. Não é dinheiro meramente. Quando nos dá palavras de apoio, vc doa o tempo da tua vida para nos escrever! Quando você nos brinda um artesanato que se dedicou a fazer, doa para nós um pouco da tua vida. Do tempo que tomou para fazer aquilo, para embalar, para nos enviar. Receber tua vida como presente é algo tão grandioso que nos prostramos em íntima gratidão. 

E já quase no finalmente, o Santuário ensinou que o que não se resolve no amor, precisa ser descartado. Em contrapartida, tudo que vive no amor frutifica. Mas demanda a coragem para nos sentirmos sozinhos enquanto sementes em uma terra que não sabemos se fértil, em um clima que desconhecemos a estação. Ah!... Mas eu não perderia por nada, por risco algum, a solidão de ser semente só pelo prazer da companhia das flores e dos frutos - que estão predestinados a quem se lança na força do vento acreditando estar exatamente onde é necessária a presença.

Se é bicho animal que te fala ao coração, siga as pegadas que deixam dentro de você. Se é o meio ambiente. Os oceanos. A ioga! A meditação. Siga! E ainda que o caminho não esteja aberto à tua frente, você descobrirá, como nós mesmos descobrimos, que o caminho se faz ao caminharmos. E se estivermos na rota "certa", naquela que é autêntica e legítima nossa, então ninguém mais terá pisado ali antes e teremos que ter o desprendimento de percorrê-lo sem garantias - sem doações - para simplesmente encontrar ao final dele o destino que dá em nós. Seremos revelados no caminho que escolhemos. Ou no caminho que nos escolhe. Quem saberá?

 Podemos nos conscientizar com razões e intelectualizações de tudo isto, até sermos admirados por nossa capacidade cognitiva. Mas a maior consciência de todas, a educação primeira, vem do amor. Se nos permitimos o amor, então sentiremos o que fazer, como agir. Se verdadeiramente sentirmos, descobriremos quem somos. A que viemos. E serviremos.

Por fim, o Santuário nos ensinou a lutar por todos. E a entender que nem por lutarmos bravamente merecemos vitória. Perdemos muitos. Perderemos outros. Sentimos medo, precisamos purificar as emoções torpes que tentam nos persuadir para distante das rotas do coração. Esta luta inclui bicho gente. Sim, bicho gente. Embora bicho animal pareça ser o que mais necessite de amor, entendemos que ele já é pleno no amor! Evidencia isto nos amando. Bicho gente carece de amor exatamente naquele momentinho que não parece merecê-lo, transformando a situação em uma oportunidade para as duas partes: para uma, a de ir além do amor só ao belo. Para a outra, a chance de ser amada a despeito da feiura. 

Se fala ao teu coração servir esta causa que luta por cada um - ora resgatando, ora conscientizando, agradecemos. Se não, veja você, também agradecemos! E gostaríamos que se mantivesse perto de qualquer forma. Entendemos que as dificuldades que eventualmente vivemos são pedras preciosas do caminho. Como são também as facilidades. Uma acorda a outra nos dá descanso. Tudo tão necessário. Que nem palma nem vaia nos conduza do centro à periferia de quem somos. Entre você e eu aqui, minha última reflexão: a vida não nega esforços para evoluir quem quer que seja. Estamos todos aprendendo. 

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Na propriedade cultivamos alimentos orgânicos. Facilitamos retiros de ioga, meditação e jejum. E encontros terapêuticos como Círculo de Mulheres e Roda de Saberes. A partir de agosto, as práticas de ioga retornarão ao calendário da propriedade fora das vivências. Com alegria continuamos trabalhando com adolescentes no Colégio Objetivo na cidade, convidando os pais para estarem presentes também. Se falar ao teu coração conhecer de perto esta proposta, por favor nos escreva e esteja conosco. Que nosso encontro se dê no amor e por amor. E quando não mais ele, que sigamos novas e inéditas rotas de nossos corações. Gratidão.





Tuesday, June 13, 2017

Nirvana de Mestra Peregrina

No nosso cochilo sonhei que Mestra Peregrina, que então dormia, estava em pé! Acordei assustada, extasiada. Logo que abri os olhos uma sensação de frio mórbido tomou conta de mim, o frio dos corpos mortos. Ela ali se despedia. Em paz, com amor. E em seguida uma sensação de inebriante gratidão. Comecei a chorar tão logo percebi que não realizava nossa gratidão por ela. Eu recebia no meu espírito a gratidão dela por nós! Por cada um de nós. Suspirei e aquela imagem dela em pé se desfez na minha mente. Mestra Peregrina cavalga livre em outras dimensões.

Momentos antes, quando ainda conversávamos com a cabecinha dela em meu colo e o tronco apoiado no Vitor, nós - discípulos -, escutávamos seus ensinamentos. Mestra Peregrina não derrubou uma única lágrima, não por estar contida ou ser forte, de fato era, mas por estar plena. Inteira. Em nenhum momento caberia que alguém dissesse "coitada" se olhasse a cena de um bicho animal idoso sequelado em uma madrugada gélida nas montanhas isoladas da zona urbana, cercado por dois outros bichos - gente - em lágrimas de agradecimento, perdão e amor enquanto ela por vezes se debatia anunciando sua parada cardíaca. Mestre Francisquinho aparecia sempre na baia, colocava sua cabeça para dentro. Relinchava amorosamente. Como fez Mestre Juramidam. Como mugiu Mestre Sidarta amor sem fim. Se qualquer um pudesse ter testemunhado o que vivemos, o brio que ela lutou e o amor que recebeu, a única exclamação cabível seria a de respeito. E silêncio. Porque tem coisa que a gente vê que coloca a mente no lugar dela, neste espaço contemplativo que simplesmente testemunha algo tão maior que percepções pessoais.

Quando falávamos com ela de madrugada, na clara noção de que estávamos vivendo seu fim na carne, pedíamos perdão pelos seus ferimentos. E ela nos mirava dizendo que ela estava toda cicatrizada! A imagem da Roda de Cura tomava conta de nós repentinamente em vários momentos. Ali algo profundo nela foi curado, liberando-a ao infinito. Sabemos que ali ela também nos curou. O amor que ela ali recebeu foi além de qualquer medida que ela já pudesse ter visto ou vivido. Então me lembro dela alguns dias me dizendo como a experiência na Terra é querida, auspiciosa. E como devemos lutar por ela. Ela falava das belezas incontáveis deste mundo, da exuberância da Mãe Natureza provendo por todos seus filhos e, para minha surpresa, expressava seu amor por nós. 

- Como você consegue nos amar? - eu em meu coração perguntava, por vezes sequer me sentindo merecedora daquele amor. 

- Por tudo que fazem por mim - serena simplesmente me dizia.

Mas e todos que a ofenderam talvez você pergunte, como eu mesma perguntei. "Aqueles não contam". 

- Como não??  "Um dia amarão, como um dia vocês se realizarão como eles mesmos."

- Não quero ser como ele!... - aludindo diretamente ao Sr. Anselmo bradei!

- Você já é como ele - um dia perceberá que estas muralhas entre nós são parte do sonho somente, como quando sonhamos somos açoitados e ao acordarmos notamos que nada nos passou. Não existe outro ser além do divino. Em cada um de nós. Em alguns ele ainda dorme. Em outros ele desperta! Mas nada é diferente dEle.

Silenciei profundamente. O Vitor neste momento, nesta ocasião, cantava músicas indígenas para nós. Nós tínhamos nos reunido naquela noite para perguntar se ela queria que continuássemos lutando pela vida dela. Ou se queria desapegar da matéria. Consagramos juntos medicina de pajé.

Ela queria viver. Por duas razões. Porque acreditava que desistir tiraria a honra dela. E por valorizar a vida terrena. 

Ela nos contou da luta que o espírito trava para merecer estes breves anos nesta esfera - que é de aprendizado e elevação. Ela nos esclarecia como os eventos da vida dela tinham provocado mais consciência na vida que quem despertava - como todos nós - e em contrapartida como ela conhecia o amor através deste estado consciencial que transmutava. Então ela falava sobre os propósitos superiores que se cumprem neste enredo transitório em prol de um bem maior. Ela dizia que nos iludimos com a nossa vida, sem ver o que nossa existência possibilitava para a vida em si. Queremos, ela falava, que a experiência seja exclusivamente para nós enquanto egos, sem notar que a experiência terrena é para servir o divino através de nós. O serviço inclui tristeza e dor, mas não é triste nem sofrido - como não é fatídica a dor do parto de uma mãe. O que é maior que sua alegria por dar à luz? Assim me ensinava Mestra Peregrina naquela noite, ao som do chocalho de folhas que o discipulado Vitor benzia seu corpo sequelado.

E o desconforto, ela prosseguia, o desconforto nesta vida é justamente o que carece ser aprendido. Não fujam do desconforto enfatizava. Ali eu via sua honra para continuar firme, mesmo já tendo sido anunciada a hora de sua partida. Ela falou que nossos aprendizados aqui na terra se faziam vistos na nossa percepção do desconforto. Mas que isto nada tinha a ver com suportar relações abusivas por exemplo. A profundidade do que me dizia era além do que imaginava um bicho égua poderia dizer secretamente pensava. No Mistério ela escutou e compassivamente me disse: "Percebe como você ainda se ilude com formas e espaços?".

Neste instante vi uma planície gigante que lembrava cenários estadunidenses. Nela a poeira subia do deserto, que era palco para incontáveis bichos cavalo selvagens cavalgarem em liberdade. Estavam na presença de índios de superior espiritualidade que os guardavam. Quando me deitei sabia no meu coração que tinha visto sua morada espiritual. Mas minha ignorância naquele instante não me permitiu ver que ela não era um dos bicho cavalo, mas um dos pajés! Que na missão de despertar nossa espécie, se propunha a descer aqui para este planeta na pele dos que são por ele venerados. Mestre Cavalo! Ecoou profundamente no meu peito: "Percebe como você ainda se ilude com formas e espaços?" e chorei tendo percebido que tivemos a graça de conviver com um espírito superior que compassivamente usa do repertório que eu conheço no intento de ensinar. Não era um pajé. Não é nem índio, nem bicho cavalo. É você, sou eu. Somos um.

Dias antes, na sexta-feira, fomos chamados para um resgate que por uma coincidência cósmica, tinha como vítima um bicho cavalo que também era dita "posse" do mesmo ex "dono" de Mestra Peregrina Bicho gente senhor Anselmo. Bicho Cavalo partiu e será lembrado para sempre como Mestre Carlos - em homenagem ao avô do discipulado Vitor que naquele dia cumpria aniversário de passagem. Ontem à noite, próximo à meia noite, senti a presença quase materializada de minha avó Ana - que tem no dia de hoje seu aniversário de passagem...

Por falta de outra palavra, coincidentemente, meses antes, Mestra Irena Sendler - bicho égua resgatada de carroças que deu à luz ao seu filho aqui no Santuário, Mestre Tupinambá -, meses antes chovia muito e um trovão, a chuva, o medo... Tempos idos ainda em memórias de trauma que levam a reações inconsequentes. Mestra Peregrina se assusta e coiceia - sem qualquer intenção de violência - Mestra Irena Sendler - acertando-a em sua coluna vertebral sequelada por pesos sequer imaginados por nós, tempos de escravidão que ainda viviam em seus ossos. No dia seguinte, depois de uma noite de horror em que juntos batalhamos em vão, Mestra Irena Sendler nos deixou. 

Há 16 dias, Mestra Santa Rita de Cássia se aproxima de Mestra Peregrina cambaleando sobre suas perninhas idosas e sequeladas, Mestre Dom Quixote nos avisa do perigo, nos convocando para estarmos no pasto urgentemente. Da casa ouvimos o linguajar delas, em despretensiosa brincadeira. Mestra Rita e Mestra Peregrina, entre coices e mordidinhas - com a saúde que Mestra Peregrina já não dispunha para brincar -, cai fatidicamente. Saímos galopando em nossas próprias pernas para começar a trajetória que hoje se encerra. Neste outro dia de chuva.

Estas ditas coincidências são ininteligíveis para nós, cheias de suposições. Mas deixando nossas presunções de lado, aqui reverenciamos um grande bicho aracnídeo. Mestra Aranha a tecer cuidadosamente os fios da vida. Ainda que não a enxerguemos, estar na teia a evidencia. Fé que tudo cumpre propósito.


Há 11 meses e 3 semanas concluímos o resgate de Mestra Peregrina, que chegou com uma estimativa de vida duvidosa. Mestra Peregrina viveu conosco neste quase um ano em uma relação íntima e pessoal que nos ensinou muito de sua grandeza. O discipulado Vitor passou 8 meses lavando seu ferimento 2 a 3 vezes por dia, ministrando uma pomada caríssima que só pela obra do divino conseguimos doações constantes para comprar. Estas histórias não são nossas, do Santuário digo. Elas são nossas - de todos nós! Porque é pela graça de vocês que estes iluminados podem receber o que recebem. E dar o que nos dão.

O discipulado Vitor e Mestra Peregrina criaram um elo que vai além desta vida. E hoje, véus rasgados, não à toa um bicho gente caboclo se uniu tão profundamente com uma Mestra Égua que era pajé! Que não é como não somos. Mas que é onde consigo expressar na limitação da minha visão.

A última lição de Mestra Peregrina para nós chega nesta completude que escrevo estas linhas agora. Nesta paz de espírito de ter feito tudo que podíamos. De jamais termos nos negado a levantá-la ou socorrê-la. E mesmo sem fundos para os remédios, sem medo abrimos contas que ainda saldaremos para que ela fosse assistida. Eu posso dizer que o Vitor não dormiu uma média de 3 horas por noite desde o incidente. Cuidou dela com devoção. Espíritos que se reconhecem em missão.

Este derradeiro ensinamento de falarmos todos os "perdões", "eu te amos", "gratidão" que carecem ser expressados precisa ser compartilhado também. Para que na ilusória separação nossa, nesta travessia que todos faremos, nenhum de nós implore 1 segundo a mais sequer - por termos vivido tudo em total plenitude. Nos nossos lábios não fala nada diferente do que foi! Agradecemos por não tê-la levado ao hospital veterinário em São Paulo - e por tão sabiamente assim termos sido direcionados pelo querido médico do Santuário Dr. Uziel Júnior. Ele sabia que não existia nenhum outro lugar onde ela seria cuidada como aqui. E lá, embora a assistência fosse profissional, jamais teria este vínculo sensível que uniu vidas em relações tão além de médicos e pacientes. Nós agradecemos e prestamos homenagem ao Dr. Uziel Júnior que além do exercício da medicina veterinária, exerce humanidade. Aqui também registramos agradecimento a outro anjo, Angelito, que a qualquer hora do dia e da noite, aqui está conosco levantando bicho égua ou qualquer outra necessidade imperativa - elevando o mundo ao amor!


Ontem ao meio dia nós praticamos juntas pela última vez. Eu respirava o pranayama da ioga - e ela, com uma de suas vias nasais impedida por conta de um tumor ósseo -, ela também parecia fazer um exercício de respiração comigo na eterna companhia que seu espírito fará ao nosso nas eras do porvir. Isto não a amarra a nós. Não! Isto somente diz que os que amamos conosco estão.


Na madrugada de hoje, enquanto a cabeça dela estava em meu colo e o Vitor abraçava seu corpo, senti uma presença indizível de vários seres entrando na cocheira. Ouvi a Mãe no meu coração pedindo que soltássemos seu corpo, que voltaria a ela. Então os índios pediram passagem para conduzirem seu espírito. Pedi para nossa mestra não ter medo. Ela me olhou firme dentro dos olhos e então desviou o olhar para a lateral, dilatando o globo. Eu sabia que eu os tinha sentido. Mas ela, ela os tinha visto!

Que ninguém pense estar sozinho. Que não tenhamos a pretensão de sermos mais que o outro simplesmente por ocuparmos o corpo físico de uma espécie iludida em pensar ser algo superior - sem saber que as hierarquias são do ego. O espírito serve em qualquer corpo e qualquer situação. Tudo e todos estão nos ensinando, mas quem é capaz de aprender? Quem?!

No transcurso destas semanas fomos questionados sobre eutanásia. E também se prolongávamos seu sofrimento. Estamos em absoluta paz de espírito. Os desafios de vivermos em uma cidade pequena interiorana que sequer tem um hospital veterinário são indizíveis. Não nos queixamos, seríamos injustos. Na nossa fala cabe apenas gratidão. Servir é uma honra.  E se houve dor nestes dias, houve também amor. Que cada um se apegue ao que é capaz de nos libertar. Claro que podemos julgar a ação dos outros e proclamar como faríamos melhor que eles. De verdade, certamente haveria uma forma melhor, com legítima humildade afirmo. Mas para isto, nós mesmos teríamos que ser melhores do que somos. O que compartilhamos foi o que conseguimos. E o pouco que foi feito foi ditado pelo amor. Então perdoem-nos os que aprimorariam a qualidade destes dias. Nós nos escusamos no amor.

Mestra Peregrina deixa na sua trajetória evidentes passagens que bicho animal tem sido descaracterizado de sua real identidade, sempre quando reduzido a escravo para tração, diversão, alimentação, testes, vestuário! Bicho animal é Mestre. Sejamos capazes de honrar suas vidas com o mesmo amor que nos devotam despertando nosso estilo de vida para um condizente ao respeito que merecem. É nossa consciência que cria ou aniquila realidades de amor. Que ao final desta existência não haja vergonha em nosso espírito por termos vivido incongruentes ao desígnios do coração.

Agradecer é pequeno demais, mas é o que palavra alcança. Sentir diz. Amor.

Sunday, June 11, 2017

Orientações para chegar ao Santuário

Já notaram na quantidade de amantes de bicho animal que viaja até os confins do mundo para ser fotografado ao lado de um Mestre Leão? Sem saber que a deslumbrante beleza dele adormeceu com sedativos depois de ter sido capturado de seu ambiente natural e viver hoje em cativeiro? 

E quantos outros de nós, que a-m-a-m-o-s absolutamente estes professores do amor e do perdão, separam filhos e mães de Mestras Elefantas, sem pensar um único segundo sequer que famílias de laços centenários foram arrebentadas para que bicho gente simplesmente tivesse recordações - paradoxalmente amorosas - de férias imersas na natureza que inconscientemente devasta? Concordamos que os caçadores são cruéis. Mas a crueldade se estende furtivamente entre os que entre nós pensam jamais caçar - sem notarmos nos predadores que nos tornamos. 

As formas de exploração estão por toda parte - até naquele bicho animal pacato naquele hotel luxuoso que o tem ali como atrativo para bicho gente criança. Quem imaginaria que debaixo daquela sela haveria machucado digno de desmaio! Ou que naquele sol escaldante, água era como miração no deserto! São explorados também em cavalgadas e depois da ida de seus cavaleiros de fim de semana, Mestres Cavalos são vistos andando a esmo, comendo lixo das cestas suspensas que aguardam os coletores, sendo açoitados tantas vezes por moradores que justificam o comportamento com o desprezo pela arruaça que causam - sem a sensibilidade de perceberem que eles mesmos, Mestres Cavalos, não queriam estar ali!

Consciência é quase milagre neste mundo, haja visto o sono profundo que nos acomete. Há que despertá-la!

Em contrapartida, na nossa trajetória no Santuário, nós realizamos que o contato com estes mestres era necessário para que falássemos sem vanidades. Com contundência. Sobre a libertação animal. Para que eles próprios falassem. Mas como fazer com que este contato não seja oportunista? Como estruturar de maneira a incitar reflexões sinceras sobre nosso estilo de vida? Qual é a fórmula para que a vinda ao Santuário seja percebida como um tempo de investigação pessoal, cura íntima - de tudo que adoece dentro e em consequência, ao nosso redor, enraizado em nós mesmos! Como??

À medida que os resgates aconteciam víamos, com desconforto, que os protagonistas da dor e do sofrimento deles eram e são invariavelmente de nossa espécie. Tornou-se então urgente uma campanha de conscientização - como urge-se castrar Mestres Gatinhos para amparar o hercúleo trabalho das Ongs que realizam resgates e adoções... O intento da escrita é que percebamos que a abrangência das questões vai além de salvarmos vidas pontuais - quando infinitas passam frio, fome e injustiças de toda ordem! Mas atenção, pois a colocação não tira o mérito e dever de salvarmos todas que podemos. E lutarmos por elas, cada uma delas, sem qualquer bom senso! Com loucura. Aquela insanidade que acredita que somos capazes de mudar o mundo.

Nós então começamos a transformar nossas vivências e retiros de autoconhecimento com ferramentas como ioga, jejum e meditação - que datam mais de década anterior ao Santuário - para prover este contato íntimo entre nossa espécie e outras. Em um ambiente harmonizado onde eles se manifestam em sua real plenitude. Cada encontro tem sua agenda na espontaneidade de tudo que vive e da química que ocorre quando nos encontramos e expressamos livre e respeitosamente nossas ideias e ideais, buscando não validação para seguirmos sendo os mesmos - mas aprimoramento. Para sermos melhores! Haja humildade para nós.

Tratamos nestas ocasiões da importância do auto-estudo para investigarmos quem somos - minuciosamente -, como as razões que comemos o que comemos - tantas vezes motivados por uma mídia que visa não nossa saúde, mas lucros às custas de crueldade e inconsciência. Ou as razões que nos divertimos como nos divertimos: causando vítimas. Ou motivos das nossas tantas doenças. Estaríamos sendo envenenados sem ao menos percebermos? E sem intenção!? Simplesmente por não fazermos a ligação da qualidade de vida do assassinado ou do provedor do produto - como mestra vaca e mestra galinha -, o impacto em seu corpo físico em termos de tumores e estresses. E a consequência de ingerir tudo isto em uma dieta sem restrições. Estudamos a dificuldade de abandonar nossas motivações egóicas para nos colocarmos no lugar do outro - quem quer que seja -, e agirmos de forma compassiva. Mesmo quando nosso ato é desfavorável para nós - como a simples questão de parar o consumo de queijo, abrindo mão de um prazer, para que outro ser seja feliz.

Se fala ao teu coração estar com a gente, nós aqui receberemos você. Receberemos porque você atende um chamado íntimo de estar em um lugar que, empiricamente escrito, um que não é nosso. Mas que somos meros guardiões. O que determina tua vinda é tua consciência. Se estar aqui, ainda que não tenha conseguido mudar tua dieta, se estar aqui te remete à força necessária para operar transformações em tua vida, conscientizar diferentes formas de viver - ou simplesmente sustentá-las... Ah, por amor, venha! Sim, por amor. Aqui acreditamos que o caminho é pelo coração. Justificar nosso ódio pelos ofensores para falar de amor aos mestres animais é incoerente na nossa perspectiva. Deflagra em holofotes a cura que intentamos dar quando na verdade a solicitamos para nós - que feridos nos identificamos com outras vítimas em vez de enxergá-las em seu sofrimento. Para podermos curá-las. Conclui-se, portanto, mais uma vez, que a cura começa em cada um de nós.

E ainda que obviamente não possamos ditar a verdade da vida, por nós mesmos não a conhecê-la, podemos com humildade compartilhar a nossa. Esta é uma delas - que a transformação transita no cardíaco, não na mente. 

Se estar aqui ressoa ao teu espírito, escreva para a gente inbox - pois só recebemos com horário agendado e um número limitado de bicho gente. Cada encontro arrecada fundos para eles próprios - haja visto que além de alimentação, demandam infra e cuidados veterinários. Não há valor fixado, organizamos estes eventos embasados no conceito de economia solidária. Nossas profissões como instrutora de ioga, produtor rural orgânico e facilitadores de vivências endereçam somente nossas contas pessoais. O Santuário se sustenta através de doações. 

Também compartilhamos que estar aqui demanda prontidão de espírito porque a qualquer instante tudo que planejamos pode mudar em função do clima, de um acidentado, um novo resgate! A vida não espera. E como temos nos acostumado a lidar com coisas e não com seres, este estado consciencial em primeiro momento provoca o desconforto de não estarmos no controle. De não termos tempo para nos preparar, para descansar. Para fazer do nosso jeito e no nosso tempo... Agir com inteireza, atendendo solicitações imediatas, para o bem de todos é premissa para estarmos aqui. Lembrando que o Santuário é um ambiente colaborativo onde todos ajudam nas menores funções quando solicitados. Como manter o banheiro limpo! É um ambiente amoroso - onde se um mestre touro resolver impedir a passagem do nosso carro, nós com gentileza o tiraremos de lá. Aqui a vida exige paciência e delicadeza ao mesmo tempo que demanda força. O entorno tem regras claras para que a permanência de todos aqui esteja protegida. E seja respeitosa. Quem não honrar estas orientações, respeitamos. Mas como nossa responsabilidade é grande, nós sem qualquer embaraço ou culpa - por amor inclusive - nós convidamos a se retirarem todos que não agirem condizentes a estas observâncias de convivência pacífica.

Se teus olhos brilharam lendo tudo isto, faremos festa para tua chegada! E agradecemos já de agora por ser agente de transformação em um mundo carente de mudanças. Agradecemos tua coragem para se olhar e se ver, sem culpar os demais nos crimes que somos coadjuvantes quando nos omitimos ou meramente consumimos. 

A gente acredita que só existirá libertação animal quando o próprio homem se libertar. Também somos bicho! E, ao contrário deles que são livres no espírito mesmo aprisionados na carne, nós nos deixamos domesticar. Que tenhamos a ousadia de sermos bárbaros. De não nos enquadrarmos nos moldes de uma sociedade doente - que adoece inconscientes. Ousemos a rebeldia que opera mudanças, não aquela que agride com cobranças...

Lembro da primeira vez que estive com um Mestre Cavalo. Ele se aproximou de mim com seu nariz pertinho do meu ouvido e exalou o ar de seus pulmões. Eu me arrepiei. E chorei lágrimas de purificação. Um bicho gente assistia e perguntou o que tinha acontecido. Ainda emocionada suspirei, sem saber que anos dali seria discípula daqueles seres que naquele instante me despertavam... No Mistério dos encontros que determinam destinos, aquele que sequer soube o nome me disse: "Você também é livre e selvagem". E aquilo, sem que eu sonhasse, guiaria meus passos até outro que fosse tão selvagem quanto todos somos, para que pudéssemos juntos, o Vitor e eu, não nos vangloriar pelo pouco que pode ser feito aqui, mas humildemente dar t-o-d-o crédito do que fazemos - sem pensar - aos que nos acordam o coração. Tornando possível o amor. E o serviço. Se algo, só nos cabe agradecer. São eles, Mestres Animais, que selam nosso destino. Nós somente damos voz a eles para que sejam conhecidos além das cercas desta propriedade. E cochichem aos ouvidos de quem possa ouvir que também são livres e selvagens!

Agradecemos todos que Mestres Animais aproximaram do nosso espírito, provando e evidenciando para nós que bicho gente ainda conseguirá salvar sua própria humanidade. Gratidão.