Friday, December 6, 2019

Mais amor

Em semanas uma nova mudança de ciclo e para mim impossível acercar-me do meu aniversário sem ponderar sobre as rotas percorridas.

Lembrei de quando consegui enxergar Mestre Animal como vítima. E como ingenuamente acreditei que somente trabalhar esta mesma vítima mudaria a realidade macro do contexto, que só de fato muda na transformação do agressor. Então passei a ver o próprio algoz vitimizado por ele mesmo - já que colhemos o que plantamos.

Bastasse isto, no começo deste ano - depois de ter saído de um retiro de 44 dias em reclusão no ermitério do convento da Jetsunma aos pés do Himalaia e falado com ela na conclusão da expedição dentro de mim - eu vi a profunda dor nos olhos de um leproso. E tão óbvio quanto possa parecer, eu entendi que todos sofremos.

Antes porém, eu acostumava pensar que nós podemos pedir ajuda, mas não Mestres Animais. Então com o olhar mais atento enxerguei que sequer sabemos como pedir ajuda! Nem o quê pedir como ajuda. Se nos deparássemos com o gênio da lâmpada, bem possível que em vez de implorar pelo fim de nossos vícios, tantos de nós pediríamos para que nos fosse provido exatamente o que nos vicia e corrompe, aniquilando nossa possível evolução pelo amor e abrindo caminhos largos e longos para o aprendizado através da dor.

Todos sofremos, todos precisamos de ajuda.

Ainda assim, como ajudar? E qual a motivação da minha ajuda? Sentir-me melhor ou fazer o OUTRO sentir-se melhor. É curioso que até mesmo a senda da compaixão e do serviço pode ser maculada pelo ego quando ele furtivo se move pelo egoísmo em vez do altruísmo.

Ajudar o outro sem nos ajudarmos é impossível em um mundo de ação e reação, mas querer prestar auxílio para colhermos frutos pessoais em realidade nos anula benefícios. Destarte, que nenhuma ação beneficente seja adiada ou refreada. Pois ainda que nossa motivação seja egóica, ela favorece o o outro. E nós, enfim, nós um dia cresceremos para amparar sem que nosso amparo seja centrado em nossos orgulhosos umbigos.

Mas o que dizer dos que sequer querem ajudar? Daqueles que a dor do mundo é surda aos seus ouvidos - quem sabe porque cultivamos lugares secretos que ardem em feridas abertas, expostas quando sentimos dores dos demais, que por sua vez nos negamos aproximação. Porque quando nos aproximamos sentimos tudo que queremos esquecer que ainda dói. Todos que nos feriram e jamais foram perdoados. Os que deixamos para trás sem que os tirássemos de calabouços e porões em nossos corações.

Os agressores caminham entre nós. E verdade seja dita: Em nós. É imperativo maturidade para que nossa cura permita a cura do irmão através da mão estendida. Ao fim das contas, o mérito é sempre de quem se curou, então se algum, o de quem oferece ajuda é o de ter curado si próprio. Honestidade aplicada, muito é necessário crescer para nos curarmos. Por outro lado, certamente nos negarmos ao trabalho duro da missão não faz desabrochar rosas debaixo de nossos passos, apenas brotar espinhos. Que em tempo machucarão outros. E retornarão para nós como o mesmo sofrimento que causamos.

Se insistimos em nosso sonambulismo - que pouco acorda sem viver em vigília -, apenas amamos, salvamos e protegemos os que nada podem contra nós - como estes seres de infinita beleza que Mestres Animais humanos e não humanos são. Os seres dos elementos. E plantas! Mas não conseguiremos amar nossos irmãos humanos e embora possamos falar sobre a crueldade, inconsciência e ignorância deles sem nada fazer para ampará-los, na verdade falamos de nós. Bradamos sobre a falência de nosso coração para cicatrizar, acreditar, perdoar a amar. E à boca pequena falamos para o Universo inteiro que mesmo vendo tristeza no mundo, imploramos por sermos os primeiros a sermos salvos.

Agradeço cada ser em crinas e cabelos, cascos e pés, que incansavelmente e com humildade tem me mostrado e convencido que o caminho de cura do outro é o caminho de cura de nós mesmos. Para deixarmos de ser agressores. Finalmente, em especial agradeço Jetsunma Tenzin Palmo por mais do que pode ser dito. Sentir vc aqui - dentro de mim - me basta.

Que venha este novo giro solar e que eu possa ocupar este espaço sem envergonhar-me de mim ao final da jornada.