Sunday, June 18, 2017

O que temos aprendido no Santuário

Eu nunca imaginei que o Santuário fosse mudar nossa vida como mudou. Verdade seja dita, não foi ele. Foi o amor. Porque jamais tínhamos conhecido uma dimensão tão alta dele. Sentimos, tanto o Vitor quanto eu, que fomos presenteados com uma missão. Embora muitos projetem em nós seres elevados, acreditamos que justamente por sermos tão absolutamente pequenos e vãos que este propósito nos escolheu como guardiões. Para que pudéssemos aprender a perdoar. A nos entregarmos. A ter confiança... A abrangência deste aprendizado permeia níveis profundos de gratidão, a ponto de torná-la indizível. E caminha também nas veredas da justiça. Porque pensávamos ser justos antes. Mas aqui ganhamos perspectiva sobre o exercício desta virtude que vai muito além dos olhos, dos nossos julgamentos, e anda furtiva nas intenções de bicho gente. Mesmo na inconsciência. É de bom senso não revidar quando alguém em uma crise psicótica nos agride. Sabemos que aquele ser adoeceu. Acolhemos. Sentimos compaixão. Pedimos calma, falamos que passa, que tudo há de melhorar... Da mesma forma não é possível arrebentar ofensores quaisquer. Tantos deles sentem que alimentam suas famílias às custas da escravidão de um bicho animal, sem qualquer culpa - porque não há qualquer consciência! E aqui o ensinamento, acolhê-los também. Sentir compaixão. Pedir calma. E respirar profundamente para não colocar tudo a perder!

Isto não significa que as consequências do ato do ofensor não o perseguirão. Aponta somente que o sujeito carece ser educado, não meramente punido - como nosso sistema de cárcere prevê em conduta social. Do contrário, caso só a punição ocorra, seremos todos crianças comportadas quando estamos próximos de nossos pais repressores. E insuportáveis quando não estiverem olhando, haja visto que sem sermos educados, nós perdemos a capacidade de nos abstermos de comportamentos depreciativos por vias de nossa própria lucidez.

A relação punidor e punido pode ser vista por este ângulo quando aplicamos a perspectiva do cumprimento das leis por exemplo, tendo na polícia a autoridade que no cenário anterior detivemos aos pais ilustrados como repressores ou punidores. Quando a polícia não está, quando os pais não estão, então o crime acontece, a baderna, a rebeldia - a não ser que bicho gente aprenda que ser bom independente de termos alguém nos vigiando. Esta reflexão invadiria até a legislação e conotaria uma consciência superior à mentalidade medíocre que hoje temos instalada no inconsciente coletivo. Já que seríamos nossos próprios juízes.

O trabalho de conscientização é tão árduo quanto educar seres. Mas é o único - no nosso vão entendimento - que pode salvar bicho animal. Porque salva bicho gente. Não poderemos salvar o mundo, o coletivo, enquanto o indivíduo que aglomerado compõe a massa, não for salvo. Precisamos trabalhar em sistemas de inclusão - Sabe aquele pecuarista? Ele mesmo incluído! - até o ponto que o mais inconsciente entre nós faça exatamente como os conscientes - por estar sendo por estes educado. Como passa com a gente na cultura de maneira geral. Quantos de nós fazem de novo e da mesma forma tudo que já foi feito não por vivermos sem outras opções, mas simplesmente por repetirmos mecanicamente o que é feito ao redor de nós. Despertar é ainda mais fastidioso que conscientizar e educar. Tão glorioso quanto. Especialmente se começamos por nós. O que o Santuário me ensinou para isto? Derrubar meus cruéis julgamentos.

Entre as glórias do serviço estão também os afazeres práticos, de ordem transacional, que asseguram a vida digna dos que aqui - depois de histórias de contexto subversivo - por fim são amados sem condições de trabalho algum. A subsistência do Santuário é garantida através de doações e colaborações. Ah! E aqui, aqui temos aprendido tanto.

Dar o que nos sobra não nos torna bons. Aliás, ser bom não é diferencial algum. É dever. Precisamos nos curar destas noções equivocadas que desapercebidamente tomam conta de nós, fazendo até que nos iludamos nas nossas relações com bicho gente! Se nos apaixonamos, por exemplo, por alguém que é leal e idôneo, não há nada de diferenciado neste ser. A menos que nossa base para sermos tratados pelos demais se embase à nível medíocre. Se aspiramos um modelo de conduta elevado, digno de um caminho espiritual de qualquer ordem, não podemos nos gabar de sermos bons acredito. Pois o bem é obrigação. Exceder o bem com caridade, altruísmo e abnegação talvez nos leve além. Mas ainda assim é aberto para discussão. O que tento expor aqui é o fato de que devemos apoiar as investidas do bem. E você que me lê agora por gentileza me faça companhia! Não necessariamente no Santuário, mas no bem! No bem enfatizo. Então se nós nos conscientizamos que não existem lares suficientes para todos os mestres cãezinhos que vemos aos montes pelas ruas, participemos ativamente de campanhas de castração. O nosso trabalho aqui não se restringe ao Santuário. Nossa labuta é trabalharmos com firmeza para que Santuários deixem de existir!

Enquanto existimos, que possamos zelar por aqueles que damos voz. A ponto de provocar nos que perto de nós estão a noção de que a vida pode ser diferente. Que culturas mudam, se aprimoram. E que seres de toda ordem evoluem.

Também realizamos que a doação ajuda tanto quem dá quanto quem recebe. E isto não é uma técnica de recolhimento oculta em algum método da neurolinguística! Mas um fundamento espiritual. Só um detalhe, sabe quando ele perde a valia? Quando nos interessamos pelo resultado para doar! Quando ao doarmos pensamos que temos algum benefício especial. Ou pior, quando ajudamos o outro para nos sentirmos melhores... Por exemplo, que eu comesse carne - que não como! -, mas pelo argumento, que eu comesse carne. E me culpasse por isto. Doar para um Santuário aliviaria minha culpa. Sem dúvida ajudaria o Santuário também. Mas não transformaria nada. A doação tampouco compreende que ao ajudarmos uma causa, algo ou alguém, que somos melhores que eles. E nem de longe conota que aqueles seres estão em dívida conosco. Ou então estaríamos em nome da liberdade de outros, nos aprisionando a nós mesmos. Escrevendo contratos disfarçados por outras intenções. Nós com humildade aceitamos o que nos é doado. E humildemente ajudamos todos que podemos. O que aqui está vai além da colaboração, vai para dentro, para debaixo da pele, naquele lugar onde a gente precisa ser educado para se livrar das nossas próprias birras e manhas! 

Só que nem sempre a ajuda chega. E veja você que aqui nasce mais um grande ensinamento para nós. Isto não nos dá o direito de reclamar! Não, não e não! Ou de vociferar nossos desafios econômicos a plenos pulmões em conversas casuais ou em bytes no mundo virtual, como se a responsabilidade da nossa vida fosse de alguém além de nós mesmos. Pedir ajuda humilda a gente, nos torna humildes. Não pode nos humilhar. Nós nos humilhamos quando exigimos do outro o que ele não tem obrigação de fazer. "Mas você não tinha escrito que é dever ser bom?". Claro que sim! E todo mundo escolhe como. A gente respeita. Ou precisa aprender a respeitar. Então o aprendizado para nós foi o de agradecer. Porque quem não colabora - ainda que seja com uma palavra de força pelo amor de Deus -, até este é professor. E cá para nós, tem suas razões! Todos nos evoluem. Cada um é importante. A gente tem o que a gente precisa, no exato momento da necessidade. Nem antes, nem depois. O Santuário demanda entrega que a gente jamais vislumbrou na vida! 

E na ausência do recurso, chega o pedido de socorro. Eu quereria mudar para outro planeta se ao pedir guarida para alguém, este ser checasse sua conta bancária em vez de me acolher em sua casa. Ou se eu mesma não oferecesse - ainda com riscos de falsidade e interesse imbuídos no acolhimento - a guarida mais simples e austera que fosse, a quem pedisse. O Santuário ensinou para mim, para nós, para o Vitor também, que dizer SIM é uma atitude espiritual. Que não é permissiva. É compassiva. Como o NÃO tampouco é ofensivo. Igualmente compassivo e espiritual. O que ambos ensinam é sabedoria.

O SIM marca o amor incondicional. E o NÃO o amor bravo, diferente destes românticos que naufragam nos altos mares do cotidiano. Amor que põe limite, que educa, que orienta. Pode ser uma baita carência nossa deixar de colocar limite, educar ou orientar - uma vez que este limite, educação e orientação possam nos oferecer a rejeição de quem os recebe. O Santuário ensinou da compaixão. E da braveza! Esta delicadeza para ser forte sem ser rocha, onde ondas se quebrariam contra nós e retornariam aos pedaços ao oceano. Esta delicadeza para ter a força que a água tem, para transmutar com paciência. 

Vamos agradecendo e sem reclamar. Seria a reclamação uma cobrança acobertada de razões fúteis da criança em nós que não quer crescer para se responsabilizar pelo trabalho que ela poderia fazer para mudar qualquer que fosse a situação? Amadurecer dá trabalho. Talvez por isto, tantos de nós estejamos só a envelhecer. 

Aqui nos negamos a qualquer tipo de comportamento que possa despencar o nível vibracional de todos os envolvidos. Falhamos admitimos. Mas seguimos firmes no intento. Esta atitude inclui não usar imagens fortes - exceção de algo que estejamos vivendo e necessite ser compartilhado. E não exclui nossa expressão na escrita ou por voz. Não queremos nem iremos preocupar os que á nossa volta estão para pressionar emocionalmente outros a nos ajudarem. Em assuntos que a providência resolve através dos que necessitam doar. Assim como necessitamos receber. Estas necessidades não são necessariamente financeiras. Mas emocionais, espirituais! É incrível recebermos ajuda porque deixamos de nos sentir sozinhos. E pode ser igualmente incrível ajudar justamente pela mesma razão! Eis que surge a união distinta entre o que precisa e o que tem o que o outro necessita. Surge um complexo de beleza rara onde os dois dão mutuamente, recebem um do outro mutuamente. Nos elevamos por fim!

A despeito de bastidores dignos de roteiros da dramaturgia, nós não reclamamos. Aliás, estes roteiros - sabemos - não são privilégios nossos. Sabemos que cada um de nós vive sua própria batalha, por isto é bom a gente andar com mais respeito e gentileza pela vida. Todos passamos por nossas pessoais provações.

Nossas contas são intermináveis. E sozinhos não damos conta delas. Nós precisamos de ajuda, mas não bradamos por ela aos quatro ventos, culpando outros que por sua vez poderiam reagir culpando o governo que devolveria para nós com a justificativa do que é de nossa responsabilidade. Nós simplesmente respeitamos os que podem dar e os que não podem dar. Até quem não dá nada, dá o que tem! Paradoxal e verdadeiro. E tudo aqui se recebe. Como ensinamento. 

A gente recebe oração, prece, mantimento, remédio, ração. Recurso financeiro. Sorrisos a gente gosta muito também, bom humor. Perseverança e resiliência. Aqui recebemos o divino através de vocês. E agradecemos.

Se estiver no teu coração ajudar, não se detenha ao que pegam tuas mãos. A gente quer receber doação de tempo, a gente quer viver cercado de quem devota a vida - que é o tempo - ao que realmente importa. Quando vc doa um montante qualquer do que você ganhou com teu trabalho, é tua vida que você nos oferece. Não é dinheiro meramente. Quando nos dá palavras de apoio, vc doa o tempo da tua vida para nos escrever! Quando você nos brinda um artesanato que se dedicou a fazer, doa para nós um pouco da tua vida. Do tempo que tomou para fazer aquilo, para embalar, para nos enviar. Receber tua vida como presente é algo tão grandioso que nos prostramos em íntima gratidão. 

E já quase no finalmente, o Santuário ensinou que o que não se resolve no amor, precisa ser descartado. Em contrapartida, tudo que vive no amor frutifica. Mas demanda a coragem para nos sentirmos sozinhos enquanto sementes em uma terra que não sabemos se fértil, em um clima que desconhecemos a estação. Ah!... Mas eu não perderia por nada, por risco algum, a solidão de ser semente só pelo prazer da companhia das flores e dos frutos - que estão predestinados a quem se lança na força do vento acreditando estar exatamente onde é necessária a presença.

Se é bicho animal que te fala ao coração, siga as pegadas que deixam dentro de você. Se é o meio ambiente. Os oceanos. A ioga! A meditação. Siga! E ainda que o caminho não esteja aberto à tua frente, você descobrirá, como nós mesmos descobrimos, que o caminho se faz ao caminharmos. E se estivermos na rota "certa", naquela que é autêntica e legítima nossa, então ninguém mais terá pisado ali antes e teremos que ter o desprendimento de percorrê-lo sem garantias - sem doações - para simplesmente encontrar ao final dele o destino que dá em nós. Seremos revelados no caminho que escolhemos. Ou no caminho que nos escolhe. Quem saberá?

 Podemos nos conscientizar com razões e intelectualizações de tudo isto, até sermos admirados por nossa capacidade cognitiva. Mas a maior consciência de todas, a educação primeira, vem do amor. Se nos permitimos o amor, então sentiremos o que fazer, como agir. Se verdadeiramente sentirmos, descobriremos quem somos. A que viemos. E serviremos.

Por fim, o Santuário nos ensinou a lutar por todos. E a entender que nem por lutarmos bravamente merecemos vitória. Perdemos muitos. Perderemos outros. Sentimos medo, precisamos purificar as emoções torpes que tentam nos persuadir para distante das rotas do coração. Esta luta inclui bicho gente. Sim, bicho gente. Embora bicho animal pareça ser o que mais necessite de amor, entendemos que ele já é pleno no amor! Evidencia isto nos amando. Bicho gente carece de amor exatamente naquele momentinho que não parece merecê-lo, transformando a situação em uma oportunidade para as duas partes: para uma, a de ir além do amor só ao belo. Para a outra, a chance de ser amada a despeito da feiura. 

Se fala ao teu coração servir esta causa que luta por cada um - ora resgatando, ora conscientizando, agradecemos. Se não, veja você, também agradecemos! E gostaríamos que se mantivesse perto de qualquer forma. Entendemos que as dificuldades que eventualmente vivemos são pedras preciosas do caminho. Como são também as facilidades. Uma acorda a outra nos dá descanso. Tudo tão necessário. Que nem palma nem vaia nos conduza do centro à periferia de quem somos. Entre você e eu aqui, minha última reflexão: a vida não nega esforços para evoluir quem quer que seja. Estamos todos aprendendo. 

____________________________________________________________________________


Na propriedade cultivamos alimentos orgânicos. Facilitamos retiros de ioga, meditação e jejum. E encontros terapêuticos como Círculo de Mulheres e Roda de Saberes. A partir de agosto, as práticas de ioga retornarão ao calendário da propriedade fora das vivências. Com alegria continuamos trabalhando com adolescentes no Colégio Objetivo na cidade, convidando os pais para estarem presentes também. Se falar ao teu coração conhecer de perto esta proposta, por favor nos escreva e esteja conosco. Que nosso encontro se dê no amor e por amor. E quando não mais ele, que sigamos novas e inéditas rotas de nossos corações. Gratidão.





No comments:

Post a Comment