Sunday, August 6, 2017

Primeiro Bazar Santuário Vale da Rainha

Há uma semana o Bazar se concluiu gloriosamente. Mas os dramáticos desdobramentos da semana passada não permitiram que falássemos tudo que ali vivemos, nos bastidores de roupas em araras e utensílios em prateleiras. Havia algo além do que encontrava os olhos, algo que magnetizava o lugar e encantava quem ali passava. A delicadeza do amor falava a quem quisesse ouvir. E mesmo os que mantinham ouvidos surdos não se detinham e se entregavam ao Mistério que ali ancorava, aproximando seres, despertando outros. Salvando. Inclusive nós mesmos. Da inconsciência, da sensação de impotência, da culpa de ver sem agir. De poder colaborar e se negar. Fomos todos salvos. Transformados. De verdade, já não somos os mesmos. Somos melhores – não de quem passa por nós. Mas de quem um dia fomos.

Uma destas quintas-feiras comuns, não fosse a iluminação e inspiração de dois bichos gente mulher. Servia o Almoço Ayurvédico Vegano no Colégio Objetivo, Centro Educacional Maranatha, em Camanducaia e a querida Thais Scognamiglio e sua amorosa tia – também instrutora de ioga –, Cíntia Ribeiro, perguntaram se poderiam organizar um Bazar em prol do Santuário Vale da Rainha.

Depois de alguns acertos sobre detalhes como lugar e data, firmado estava o primeiro Bazar que arrecadaria fundos para o Santuário – humildemente registro que nenhuma de nós tinha vaga ideia de tudo que as próximas semanas impactariam nossas vidas. E a forma que vemos o mundo. Jamais pensaríamos como aglutinaria desconhecidos – que quem sabe também se sentissem sós como nós – para revelar que já não somos poucos. Para evidenciar que estamos nos encontrando. E que juntos somos fortes, transformadores e revolucionários.

No transcorrer do período destinado às arrecadações, nós divulgamos em rede social pela internet nosso Bazar. As doações começaram a chegar de todas as partes do Brasil. Não recebemos nada que fosse descarte ou que estivesse quebrado, que fosse esmola ou descaracterizasse o amor na gentileza e generosidade. E tudo isto foi nos emocionando, arrepiando, inspirando. Dando esperança. O mundo e a realidade que vivemos são incondizentes a tudo que lemos nos jornais. Mas nós não podemos deixar que isto seja segredo, pois não é exclusivo em nossas vidas. Está por todos nós. Só necessita um passo nosso em direção ao outro. Um passo que se torna um salto. Que por fim nos leva às alturas, altitudes que só o serviço possibilita.

Em paralelo a Cíntia e Thais começaram a pensar nas comidinhas. Tati Souza apareceu na cena também. E o trio despertava em si uma sabedoria alquímica no preparo dos alimentos. Em um mês vi três bichos gente se descobrirem talentosas cozinheiras veganas, motivadas pelo serviço abnegado. Então realizei que todas as dificuldades que tantos narramos enfrentar na transição ao veganismo precisam ser repensadas.  Já que estes três exemplos vivos deixaram claro para quem possa notar que o possível é para agora, o impossível para já já. Assim operaram o impossível e venderam inúmeras comidinhas veganas no dia do evento... Mas disto falamos já!

Ainda tínhamos doações que nos esperavam em São Paulo, além das que foram trazidas para cá por quem se aventurou na estrada simplesmente para fazer sua doação. Então uma amiga bicho gente, Kátia Cristina, se prontificou a trazer o que na metrópole esperava carona... Quem sonharia que as doações lotariam 2 carros?! Contando bancos de passageiros!

Tudo prenunciava o sucesso do Bazar, mas se as doações chegavam de longe e de perto, teríamos público suficiente que as comprassem no Bazar em Camanducaia? Muitos nos desencorajavam e chegaram pessoalmente a manifestar estes pensamentos às organizadoras do evento. Então aqui eu deixo, de coração, uma mensagem importantíssima para todo ser que visceralmente deseja ajudar o outro... Incentivemos. Porque se o mal nos acometer, lidaremos com ele. Mas se antes de enfrentarmos desafios já desistirmos, então quiçá nada resulte luz nos porões das nossas trevas. E com muita humildade percebamos se é possível ajudar. Às vezes é ajuda incrível simplesmente não atrapalhar. Cada um precisa saber seu lugar, cada um de nós.

Cidade ao sul de Minas Gerais, com renda motivada por rodeios e cavalgadas de passeio, restaurantes regionais que matam bicho animal a curto prazo e bicho gente a longo. Será que aqui alguém haveria que nos fizesse companhia? Por pouco nos deixamos levar por estes que tentavam nos “salvar” os esforços para que desistíssemos mesmo antes de tentarmos.

A imagem pode conter: 3 pessoas, atividades ao ar livre
Em paralelo algo encantador acontecia. Nós aqui começamos a conhecer melhor a Thais, a Cintia, a Tati. Descobrimos que a Manacá – que pensávamos ser um escritório de gestão ambiental era na verdade maior e mais abrangente, a ponto de zelar não só por flora. Mas fauna também. Bicho gente incluído. Lá tem ioga às terças e quintas. Além de encontros que visam nossa conscientização e despertar, mostrando que tudo está relacionado. Apontando a responsabilidade implícita no nosso estilo de vida. Bastasse tanta graça, conhecemos a família da Thais. E neste estreitamento tantas outras bênçãos.

Chega o sábado do Bazar, anunciado virtualmente e em jornais e gazetas municipais. Às 10 a Thais chega para abrir seu escritório e encontra fila na porta!... Eu chego pouco antes do meio dia, depois da labuta no Santuário. O Vitor se revezará comigo à tarde, já que nunca saímos juntos em função dos nossos iluminados que jamais ficam sem um de seus guardiões e discípulos.

Ao ver o escritório todo arrumado com araras, cabides e prateleiras, enxergo também os detalhes e o tempo dedicado a eles. Todas as peças etiquetadas. Murais de agradecimento. Voluntários que se dispuseram a trabalhar em seu tempo livre, viajando de outras cidades, para aqui servirem propósito. A cada passo eu me emociono, mas meu semblante é plácido. Olho as peças – colares, marcadores de páginas, bichos de pelúcia. Tudo carrega o próprio amor de quem doou e me acerta o peito com flechadas de cupido, meu coração realiza as tantas amorosas companhias que temos.

Com dificuldade para conter meu pranto emocionado cumprimento amigos que até lá foram para ajudar nossos professores. Consigo atravessar o salão para abraçar a Cíntia e a Tati que no caixa e na lanchonete estão. Então olho, enxergo este lugar onde estão! Avisto uma quantidade considerável de comidinhas e petiscos, todos feitos pelas divinas mãos delas, livres de qualquer sofrimento de bicho animal. Fito nos olhos delas todas, das voluntárias inclusive, o amor da Mãe que nutre, que dá o peito e cria filhos fortes. Vi sonhos nascidos e eras paridas! Vi o seio farto e a Deusa sentada entre as batidas dos corações delas, soprando vida nos ossos dos que aqui estão para além de caprichos viver. Estes espíritos em missão que aqui estão para servir, trabalhar e evoluir.

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Quando por fim olho nos olhos da Tati a abraço emocionadamente e embora queira dizer algo, a boca cala. E o choro fala mais que mil palavras. Embora tente me recompor, cada momento que olho para nossos amigos, voluntários e companheiros agindo em prol dos Mestres do Santuário, eu choro. E penso no Vitor em casa, cuidando e servindo, como eu mesma. Tomados pela voracidade do cotidiano tantas vezes sem notarmos a quantidade de bicho gente do bem que nossos professores aproximaram de nós. Gratidão expande meu peito, por pouco me falta o ar. Os caminhos do amor são inebriantes. E lúcidos. Porque confirmam que nosso lugar é exatamente onde temos não os pés, mas o coração. Onde amamos permaneçamos. A despeito de qualquer dificuldade.

Vou até o Santuário para que o Vitor vá até a cidade e quando tento explicar o que vi simplesmente calo, de novo sentindo a força purificadora das águas nos meus olhos. Ao chegar de volta em casa o relato emocionado dele também. Naquela noite tentei dormir, mas não pude, meu cardíaco sentia aquele amor com tal intensidade que o sono não me encontrava, só o sonho. O sonho que prevê uma nova humanidade.
Embora a orientação seja agradecer e jamais reclamar, debaixo da pele as preocupações nos perseguiam. Em função do inverno, enfermos e ajustes na infra, as geadas da estação que queimaram as irmãs verduras orgânicas, as férias da escola onde as aulas são dadas e as arrecadações são feitas no almoço, por conta de tudo isto nossa conta na agropecuária estava atrasada – no valor de 7 mil reais. E se logo não tivéssemos o montante, não poderíamos mais receber alimento para os 70 aqui abrigados.

Image result for sarada deviQuando eu rezava fervorosamente, a grande Mãe me falava ao coração, dizendo que enquanto a graça não chegava, ela me ensinava confiança, entrega e fé. O Santuário é uma entidade espiritual oferecendo guiança, resgatando bicho animal. Resgatando bicho gente. A Rainha sempre me lembra que o Santuário é dEla, não nosso. Nós do discipulado. Nós somos meros servidores destes que damos voz para que através de nós resgatem outros de nós. Da inconsciência! Assim os salvaremos.

Raiou o dia e a labuta da alimentação, medicamentos, revezamento de pastos, meditação e ioga toma seu lugar antes mesmo do nosso café da manhã. Dou aula para uma das voluntárias amadas, um destes seres que cruza nossas vidas para nos evoluir no amor! Thais Vargas Munaier a quem devotamos aqui amor e cuidado, ruma junto ao Bazar para que depois o Vitor possa ir.

Lá chegando conversamos um pouco, as amadas ali querem me contar da arrecadação de ontem. Eu mesmo com desejo de saber, peço que me contem depois. E digo que qualquer valor ajuda. Imaginava algo em torno de 10% da nossa dívida. Ainda teria que pensar em qual milagre operaria para que mestres animais comessem segunda à tarde, pois o alimento terminaria ao meio dia e não teríamos como encomendar mais sem acertar a conta. De verdade, queria passar pelo domingo sentindo aquele amor todo, sem acelerar o tempo que chegaria, para o tal do milagre que teria que ser operado.

Nem o Vitor nem eu imaginaríamos que a Rainha, uma vez mais, já estava no comando, provando para nós como somos seres de pouca fé – nos preocupando, motivando ansiedades íntimas, simplesmente por pensarmos que somos os agentes da ação, os realizadores, quando somos somente os veículos pelos quais a graça ancora na crosta. Excessiva importância nos damos ao imaginar que não é Ela, a Deusa, que rege nossos destinos quando ao Mistério nos entregamos.

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Aí a surpresa. Elas se dirigem a mim com um cheque simbólico, mas de valor real, com o montante arrecadado no sábado. Eu abro o embrulho, leio o escrito e mais uma vez a retórica abandona o verbo e parte para a ação silenciosa. Abraço, sou abraçada, choro. Agradeço no meu coração. E peço perdão à minha Mãe – que sempre provê para todos seus filhos.

Quatro mil reais foram arrecadados no sábado e ainda tínhamos todo domingo pela frente! Totalizamos cinco mil e quinhentos reais no fim do dia. Nem o Vitor nem eu atingimos as palavras corretas. Fomos atingidos por silêncio. E gratidão – destas que não se fala. Desta que nos cala.

Segunda pela manhã a nota do querido da agropecuária pedindo o acerto da conta. Querido e digno parceiro do Santuário. Ele permite que atrasemos contas sempre que resgates são feitos, médicos são necessários, infraestrutura é aprimorada. Mas precisa ser remunerado. E nós, que por pouco nos deixamos levar por tudo que a mente mente, nos vemos constrangidos por termos um segundo sequer imaginado que não teríamos comida para dar para nossos iluminados.

Dez minutos depois da notinha dele, a da Thais – que nada sabia conscientemente da do parceiro –, dizendo que fosse ao encontro dela para pegar a doação financeira. Outra vez me emociono. O dinheiro foi canalizado para a agropecuária e para uma colaboradora que tinha financiado ajustes de infra, medicamentos e outros gastos pertinentes ao Santuário no último mês. Junto com as colaborações fixas conseguimos equalizar as contas e também começar a construção de uma nova baia!

Tanto mais poderia ser dito, mas receio diminuir. Então simplesmente, em nome de todos que aqui vivem, eu registro agradecimento. Pois se eles foram providos com recursos, o discipulado foi com ensinamentos espirituais altíssimos.

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Agradecemos o tempo de quem enviou artigos, dos que os organizaram e venderam. Os que compraram. Os que rezaram. Agradecemos quem foi negativo sobre o intento, pois este nos fortaleceu também. Agradecemos inúmeros anônimos que aqui não estão citados e que sem a participação de cada um de vocês o sucesso desta empreita jamais teria nos alcançado. Agradecemos a humildade para servir os que sequer são vistos pela maioria. Agradecemos pelo amor que sentimos e que ainda vive em nós. Reverberando em outros. Agradecemos pelos resgates que se deram na semana póstuma ao evento – e que sussurraram ao nosso coração a nossa responsabilidade por tanto recebermos.


A verdade é que silêncio só se quebra com gratidão. Este agradecimento é mais que palavra vazia, é prece, é vibração. Que este choro que ainda hoje me purifica da descrença sobre nossa espécie que tantos pregam e que nós aqui teimamos em discordar. Lágrimas purificando do medo do sofrimento dos que amamos, das despedidas precoces. Que este choro também te purifique, falando à boca pequena ao teu espírito das belezas deste mundo e da grandeza das lições que aqui são manifestas. Viver é sim bom. Uma baita oportunidade. Que a honremos, por ela zelemos para todos. E a humanidade... Ah, a humanidade! A humanidade é sim incrível.

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